terça-feira, 29 de maio de 2012
26 de maio de 1952 - A reintegração da Alemanha na Convenção de Bonn
23 de maio de 1932: MMDC - Mártires da Resistência
21 de maio de 1968: 10 milhões param a França
16 de maio de 1943: O fim do Gueto de Varsóvia
9 de maio de 1968 — URSS invade Tcheco-Eslováquia
9 de maio de 1605: A publicação da primeira parte de Don Quijote
5 de maio de 1928: A inauguração da estrada Rio-São Paulo
2 de maio de 1989: Bomba explode Memorial e reabre feridas da CSN
1940 - A festa do proletariado
"Que a Igreja perca o dinheiro, mas não perca a si mesma", afirma Cardeal Martini

"Que a Igreja perca o dinheiro, mas não perca a si mesma". Essa é a opinião do cardeal italiano Carlo Maria Martini, arcebispo emérito de Milão, em nota publicada no jornal Corriere della Sera, 27-05-2012 acerca do vazamento de documentos no Vaticano. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A Igreja, depois das notícias das últimas horas que falam do "corvo" no Vaticano, deve, com urgência, recuperar a confiança dos fiéis. Foi uma experiência de Jesus ser traído e vendido, não podia não ser também uma experiência da Igreja ou de qualquer papa.
Que quem grita ao escândalo se lembre do que aconteceu há 2 mil anos atrás. E esse episódio também nasceu de uma traição, de uma ação malvada: devemos pedir perdão como Igreja a todos.
O escândalo sempre tem uma natureza tríplice: há aqueles que o recebem, aqueles que o fazem, aqueles que dele se aproveitam. Mas a Igreja pode olhar além e ler em sentido positivo aquilo que surgiu.
Que a Igreja perca o dinheiro, mas não perca a si mesma. Porque o que aconteceu pode nos aproximar do Evangelho e ensinar à Igreja a não apontar para os tesouros da terra (Mateus 6, 19-21).
terça-feira, 22 de maio de 2012
Regime militar volta ao debate público
Os casos do coronel Ustra e do Cabo Anselmo serão julgados apenas seis dias após a presidente Dilma Rousseffter instalado oficialmente a Comissão da Verdade, destinada ao esclarecimento de casos de violação de direitos humanos ocorridos no regime militar. Eles também vêm à tona no mesmo momento em que são levadas a cabo, em diferentes partes do País, ações destinadas a expor publicamente agentes de Estado acusados de terem participado de torturas, sequestros e desaparecimentos forçados.
O comentário é de Roldão Arruda, jornalista, e publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 22-05-2012.
Pode ser somada a isso a grande disposição de militares da reserva, descontentes com a comissão, de divulgarem declarações de protesto contra a comissão, o que chamam de revanchismo, e críticas à presidente. Paralelamente, debate-se, em termos políticos e jurídicos, qual deve ser o alcance de comissão: julgar apenas as vítimas de crimes cometidos por agentes de Estado? Ou tratar também de violências que teriam sido cometidas por grupos de esquerda que recorreram às armas na tentativa de derrubar o regime?
Acima desse debate paira ainda a questão das leis internacionais, aceitas pelo Brasil, segundo as quais os chamados crimes de lesa-humanidade, entre eles o desaparecimento forçado, são imprescritíveis e não alcançáveis por leis de anistia como a que foi promulgada no Brasil em 1979 e referendada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2010.
Poucas vezes na história recente se viu um período de debate sobre o regime militar tão intenso e marcado por tensões.
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Jovens mobilizam-se contra Lei da Anistia
Em frente à empresa de segurança privada Dacala, na zona sul da capital paulista, dezenas de militantes do Levante Popular da Juventude protestam contra o proprietário, David dos Santos Araújo, ex-agente de repressão do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (DOI-Codi). Com o microfone em mãos, a estudante Lira Alli ataca Araújo, o capitão Lisboa. "O dono desta empresa é um torturador. É importante que todas as pessoas que moram aqui perto saibam. Ele assassinou, estuprou, prendeu e torturou pessoas que lutavam contra a ditadura". O protesto, realizado em 26 de março, destinou-se a marcar os 48 anos do golpe militar.
A reportagem é de Cristiane Agostine e publicada pelo jornal Valor, 17-05-2012.
Quase dois meses depois, às vésperas da instalação da Comissão da Verdade, em Brasília, o jovem Edison Rocha Junior é um dos que protestam no Guarujá (SP) em frente ao prédio onde mora o tenente coronel reformado Maurício Lopes Lima, apontado como torturador na Operação Bandeirante da presidente Dilma Rousseff e de Frei Tito. "Estamos aqui para denunciar à vizinhança e à sociedade que neste endereço, no apartamento 23, mora um torturador", diz Junior. As palavras foram repetidas por dezenas de manifestantes. No protesto, na segunda-feira, jovens pixaram "Aqui mora um torturador no apartamento 23 A" e colocaram faixa no edifício com a mesma inscrição.
Lira Alli, de 23 anos, e Edison Rocha Junior, de 26 anos, são dois dos articuladores do Levante Popular da Juventude, que promove atos conhecidos como "esculachos" contra torturadores e agentes de repressão da ditadura. O grupo realizou dois grandes protestos nacionais. No primeiro, em março, fizeram ações em dez Estados. No segundo, nesta semana, em onze Estados. Em ambos, reuniram centenas de jovens. Em março, participaram também de protesto organizado pelo cineasta Silvio Tendler no Clube Militar, no Rio de Janeiro.
O movimento divulga na internet a foto, o endereço e a acusação contra agentes da repressão militar e cobra punição. "Não queremos fazer justiça com as próprias mãos", diz Lira. "Não é uma ameaça direta aos torturadores. Mas não quero morar ao lado de um torturador, estuprador", afirma Junior.
O grupo de jovens, ligado à Via Campesina, começou a se organizar no Rio Grande do Sul em 2006 e ganhou força em 2011, com a participação de estudantes secundaristas, universitários e jovens da periferia. Muitos já participavam de outros movimentos sociais, como Junior e Lira, que se conhecem há dez anos. No início do ano, um acampamento do Levante Popular da Juventude reuniu no Rio Grande do Sul mais de 1,2 mil pessoas.
Com a instalação da Comissão da Verdade, as manifestações devem se intensificar. Para integrantes do Levante Popular da Juventude, se não houver pressão popular a comissão corre o risco de ser esvaziada. "Quando os crimes forem se revelando, vai ficar cada vez mais clara a necessidade de Justiça. A verdade pede a justiça. A Comissão da Verdade foi criada só para esclarecer o que aconteceu. Por isso é preciso pressão popular para cobrar a punição", analisa Junior.
Os protestos são organizados na surdina, para que militares, os "alvos" dos jovens, não desarticulem as manifestações. "Garantir o sigilo é fundamental. Se as informações vazarem, isso pode nos prejudicar", explicaJunior. "Protestamos contra militares aposentados, figuras perigosas", afirma. Um grupo pequeno, de três a sete pessoas, fica responsável por descobrir o endereço dos agentes que atuaram na repressão na ditadura e por mobilizar os jovens em todo o país. Um dia antes - ou mesmo horas antes- do protesto, esse grupo se reúne com os manifestantes, diz quem será o alvo da vez e dá instruções. As redes sociais são usadas com moderação. "As conversas têm de ser olho no olho, à moda antiga", diz Junior. Os gastos com os protestos são poucos, com a compra de tinta para as pixações e faixas. Os recursos são arrecadados com a venda de camisetas e uma "vaquinha" entre os participantes.
Diferente de outros movimentos que lutam pela punição dos torturadores, formado por familiares de ativistas mortos pelo regime militar e desaparecidos políticos, grande parte dos integrantes do Levante Popular da Juventude não teve parentes mortos ou torturados. A maioria também não é vinculada a partido. "Temos outras bandeiras de mobilização. Nossa pauta é a memória e a justiça, mas foi a defesa da punição dos torturadores que nos tornou mais conhecidos", explica Junior. "Acho que esse protesto [de expor os agentes da repressão] é algo novo". Analista de suporte de informática, o jovem afirma ter participado de protestos contra o genocídio da juventude negra, luta por cotas nas universidades e por melhores condições de vida na zona leste de São Paulo, onde vive, entre outros.
Junior, no entanto, lembra que seu pai, morto em 2002, foi preso pelo regime militar quando trabalhava como metalúrgico no ABC paulista. "Ele era da comissão de fábrica da Ford e foi preso sob acusação de dano ao patrimônio. Os operários sofriam uma repressão diferente. Eram acusados de crimes comuns, não de subversão. Não eram considerados presos políticos". Lira diz ter convivido com amigos de seu pai, militante do movimento estudantil, que foram perseguidos e torturados.
"Mas a nossa luta não é por um sentimento pessoal. É uma questão política", diz Junior. Os dois jovens, tidos como os porta-vozes do movimento, veem reflexos na sociedade da falta de punição aos torturadores. "A polícia continua a militar. Essa é uma das principais causas da violência contra a juventude pobre e negra da periferia", analisa Lira.Junior reforça: " Isso abre espaço para que a Polícia Militar, para que e grupos especiais da PM se tornem máquinas de matar. A não investigação de grupos de extermínio da polícia é fruto da ditadura. Ninguém faz nada contra quem tortura e mata".
Na luta pela punição dos torturadores, Lira diz que a pergunta mais frequente que ouve é: "Por que você não vai combater a corrupção?". "Digo para essas pessoas que se organizem e lutem contra a corrupção se é isso que lhes importa. Cada um elege sua prioridade. Para nós agora é o momento oportuno para se reescrever a história do Brasil".
Em 1907, Vargas relativiza escravidão e ataca cristianismo
Em 25 de dezembro de 1907, aos 25 anos, Getúlio Vargas foi o orador da sua turma na formatura na Faculdade de Direito de Porto Alegre.
No discurso, de 41 páginas, exalta as virtudes da civilização grega, e, num tom cientificista e rebuscado, passeia por biologia, psicologia, filosofia, arte e direito. Defende que a escravidão foi importante ao progresso do homem e ataca o cristianismo, em trecho citado por Lira Neto.
A reportagem é de Fábio Victor e Marco Rodrigo Almeida e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 17-05-2012.
Preocupada que a peça fosse usada por detratores do pai, a filha Alzira doou o discurso à Fundação Getúlio Vargas com recomendação de que não fosse divulgado, o que não impediu o biógrafo de consultá-lo.
Leia a seguir trechos do discurso, com ortografia original de 1907.
"E foi mais tarde sobre a soberba ruinaria da civilização greco-romana que desabrochou a flor mórbida do pessimismo christão. [...]
O amar aos outros surgiu como uma formula egoista, "interessada no desinteresse alheio", e a esmola é uma esperança de salvação creditada no activo da bemaventurança. A concepção monistica da philosophia grega foi substituida por esse dualismo absurdo, sobre-carga da maioria dos erros e prejuizos da intelligencia humana. [...]
Christo, preocupado com a salvação celestial menosprezou a familia, como a todos os bens da vida. [...]
Esta religião desnaturou a grandeza da sexualidade, a força propagadora da especie a união dos seres numa transfusão de magnetismo amoroso, considerado como um commercio impuro. A mulher amesquinhada, ser inferior, serpente tentadora do mal. [...]
A lucta não é a desordem, é a obediência dos inferiores aos superiores, é a subordinação aos mais capazes. [...]
Quando o homem não mais eliminou os vencidos, mas escravisou-os, deu um grande passo. [...] Não eliminaram o prisioneiro de guerra - absorveram-no, isto é, filtraram-no atravez o agrupamento social. Reduzido ao captiveiro foi um animal de carga mais intelligente, encarregou-se dos misteres inferiores da vida, arou a terra que proliferou em larga messe de beneficios. O captiveiro hoje prejudicial a economia dos povos e incompativel com a civilisação foi n'aquelle tempo um progresso.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
EUA pode ajudar Brasil a abrir 'caixa de Pandora' do regime militar, diz especialista
"Uma vez que a caixa de Pandora do passado for aberta, será muito difícil fechar a tampa novamente", diz, referindo-se aos segredos que podem ser revelados pela primeira vez, e que dariam início a um segundo debate no país, desta vez sobre justiça.
Kornbluh, um especialista em "abrir caixas de Pandora" usando a lei de acesso à informação americana, crê que as informações guardadas nos EUA podem ser valiosas principalmente diante da relutância das Forças Armadas brasileiras em abrir seus arquivos.
Sob pressão para ajudar no trabalho de comissões da verdade na região, ele diz, o governo americano tem liberado evidências ainda que atestem suas "políticas externas desabonadoras, reprováveis e imorais do passado", afirmaKornbluh.
O que o sr. acha da criação de uma Comissão da Verdade no Brasil?
O que, na sua opinião, pode potencialmente ser revelado pela primeira vez a partir dos trabalhos da Comissão?
O sr. mencionou a concessão feita de saída pela Comissão da Verdade no Brasil no sentido de não processar ninguém. Mas a comissão do Chile também começou com várias concessões e , mais tarde, houve condenações de militares no país.
A Comissão da Verdade também teve as mesmas restrições, vamos chamar assim, da brasileira. Estava significativamente restrita pela sombra da ditadura de Pinochet e pela ameaça de uma violência renovada por parte dos militares. Só foi estabelecida após Pinochet deixar claro que ela não poderia identificar perpetradores de crimes contra os direitos humanos. Mas o relatório extraordinário de dois volumes da Comissão se tornou base para uma discussão nova no Chile, sobre a busca pela verdade. E no fim, como todos sabem, o próprio Pinochet foi indiciado por crimes contra os direitos humanos. Levou anos, foi preciso muita paciência, mas como uma sociedade civilizada, o Chile caminhou da verdade para a Justiça. Os brasileiros também têm sido pacientes. O poder da informação que a Comissão brasileira gerar pode levar a um novo movimento por reconhecimento, prestação de contas e justiça.
Um dos resultados mais claros do envolvimento americano em países latino-americanos na época é que os EUA tinham muitos conselheiros de contrainsurgência na região. As autoridades americanas documentaram o papel do Brasil contra a esquerda - não apenas brasileira, mas argentina, uruguaia , chilena - e o papel do Brasil na Operação Condor, uma colaboração liderada pelo regime de Augusto Pinochet no Chile com todos os regimes do Cone Sul. Entre os documentos de rotina do Departamento de Defesa, deve haver relatórios sobre a infraestrutura e as unidades das forças de segurança brasileira que podem ajudar a relacionar quem eram os responsáveis por determinadas regiões onde ocorreram abusos de direitos humanos. Além disso, pode haver relatórios operacionais detalhados e específicos sobre operações de contrainsurgência, operações como a do Araguaia, que reportem a repressão que ocorreu.
Há disposição dos EUA para abrir esses arquivos?
Os documentos da natureza que estamos falando não são abertos rotineiramente. Os que são considerados altamente confidenciais - que são baseados em fontes dentro do regime militar brasileiro, ou os relatórios de inteligência preparados pela CIA - não são liberados rotineiramente e é preciso uma petição baseada na lei de acesso à informação. Mas hoje, apesar de todo o apoio dos EUA aos regimes autoritários da América Latina na época, a política americana para a região é de fortalecimento de instituições de direitos humanos e da democracia. Os EUA já ajudaram outros países - Guatemala, Peru, Equador - que tiveram comissões da verdade, praticando aquilo que eu chamo de "diplomacia dos documentos", revendo e liberando rapidamente os arquivos em seu poder para uso dessas comissões.
O sr. acredita que o mesmo ocorreria no caso brasileiro?
Nossa organização espera trabalhar com a Comissão da Verdade brasileira para formular requerimentos detalhados junto ao governo americano de documentos cruciais, da mesma forma que assistimos comissões no Peru, Equador, Guatemala, El Salvador, etc.