quinta-feira, 21 de março de 2013

Aspectos Culturais da Colônia





O crescimento urbano e social bem como o aumento da riqueza, graças à mineração, possibilitaram o surgimento de uma elite letrada que promoveu a expansão das manifestações culturais na Colônia. No decorrer do século XVIII, a literatura, a arquitetura, a música e as artes plásticas começaram a ganhar
contornos próprios mesmo sofrendo uma profunda influência dos países europeus.

Padre Antônio Vieira (1608-1697) é certamente um dos maiores escritores da língua portuguesa. Veio ao Brasil e, como jesuíta, dedicou parte de sua vida à colônia, fazendo pregações na Bahia, em Olinda e São Luís. Ocupou vários cargos na corte e esteve em vários países em missões diplomáticas.

Convicto de certas posições, em 1665 foi processado pela Inquisição por defender os cristãos-novos; condenado por suas opiniões consideradas heréticas, foi, entretanto, anistiado logo depois. Autor de vários sermões importantes, como o Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda
(1640), cujo intento era barrar o avanço dos protestantes holandeses e garantir a viabilidade da máquina mercantil portuguesa.

Antes do século XVIII houve, evidentemente, importantes realizações culturais, como, por exemplo, os sermões do Padre Vieira e a obra poética e satírica de Gregório de Matos. Porém, somente com a consolidação e urbanização da sociedade de Minas Gerais é que foi possível o surgimento de três condições
essenciais para se poder falar em literatura propriamente dita: autor, obra e público. A partir daí, foram criados hábitos até então inexistentes na sociedade colonial. Os saraus que a alta sociedade promovia
incluíam sessões musicais além de recitais de poesia. As missas passaram a ser cantadas, aumentando a produção de músicas sacras e destacando-se José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita, que compôs obras de grande valor artístico, como, por exemplo, Antífona de Nossa Senhora.

O movimento iluminista que se desenvolvia na Europa, especialmente na França, exerceu forte influência sobre a elite cultural das Minas Gerais, apesar das proibições da metrópole quanto à entrada de obras de pensadores iluministas, como Voltaire e Rousseau

Em meados do século XVIII, apareceram as primeiras agremiações literárias, como a Arcádia Ultramarina, na qual se destacavam Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, conhecidos como a Plêiade Mineira. Mas não foi apenas em Minas Gerais que despontaram literatos, pois na Bahia foram fundadas a Academia Brasílica dos Esquecidos e a Academiados Renascidos; no Rio de Janeiro, surgiu a Academia dos Felizes. Foram os árcades mineiros que introduziram o sentimento de
nacionalismo na literatura, possível de se perceber nas obras de todos os componentes da Plêiade Mineira. Nas Cartas chilenas, por exemplo, obra satírica atribuída a Tomás Antônio Gonzaga, as idéias nacionais e de combate à opressão aparecem claramente, conforme escreve Joaci P. Furtado: “as Cartas Chilenas são um poema satírico (...) que Critilo, escrevendo de Santiago do Chile, remete a Doroteu na Espanha, criticando o governo de Fanfarrão Minésio (...).

Não há dúvida de que o poema está repleto de referências à administração de D. Luís da Cunha Meneses, governador da capitania de Minas Gerais de 1783 a 1788.” Critilo (Gonzaga) escreve, como se estivesse no Chile, a seu amigo Doroteu (Cláudio Manuel da Costa), que estava na Espanha, criticando um fictício
governador chileno que, na realidade, era o governador das Minas. Todo esse cuidado em disfarçar a crítica
se justificava pela violência com que a metrópole portuguesa costumava tratar os colonos que questionavam a exploração colonial. Os intelectuais de Vila Rica, assim como os artistas, pensavam e expressavam a crítica por meio de sua arte e ajudavam a criar a cultura brasileira, apesar de todo o controle exercido pela Coroa. Talvez isso explique a nossa mania de censurar os meios de comunicação, nos dias atuais e, especialmente, nos períodos ditatoriais, como no Estado Novo (1937-1945) e nos governos militares (1964-1985).

É bom lembrar também, que Portugal proibia a circulação de livros e a publicação de jornais, como também não se preocupou em implantar o ensino superior na colônia, enquanto nas colônias espanholas e inglesas
proliferavam as faculdades e universidades. Aliada à grande riqueza que durante o século XVIII circulou nas Minas Gerais, a vida urbana que se criou em torno da exploração mineral foi campo fecundo para o desenvolvimento das artes na Colônia.

O barroco, a mais forte expressão da arte mineira, revelava a prosperidade da região; a produção foi tão intensa que havia trabalho para um grande número de artífices.

As principais obras de arquitetura, pintura e escultura foram religiosas. As igrejas imponentes eram decoradas com entalhes em madeira, pinturas nas paredes laterais e nos tetos, retratando cenas da vida de Cristo, além dos muitos detalhes pintados com ouro em pó misturado a um tipo de cola para dar aderência.

As pinturas mais importantes são de autoria de Manuel da Costa Ataíde, o melhor pintor brasileiro do período colonial; foi ele quem pintou o teto da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, onde retratou uma Nossa Senhora mulata cercada por anjinhos também mulatos. Essa atitude do mestre Ataíde revela um traço muito importante da arte mineira: o engajamento social dos artistas; muitos deles mestiços ou de origem pobre aproveitavam-se da arte para fazer crítica social e política, coisa que não podiam fazer diretamente sob risco de serem presos e condenados por crime de lesamajestade.

Antonio Francisco Lisboa, chamado de Aleijadinho por causa das deformações provocadas por uma doença, foi o mais criativo dos artistas mineiros. A beleza de suas esculturas é conhecida no mundo todo. Sua genial produção artística está espalhada por várias cidades da região das Minas, como Ouro Preto, São João Del Rei, Congonhas do Campo e Sabará. Suas esculturas traduzem a efervescência cultural e social em que viveu. O mulato Francisco Lisboa vivia na pele as dificuldades de se pertencer ao grupo dos dominados e discriminados na sociedade escravista e preconceituosa do Brasil colonial, que opunha brancos e negros e destinava a estes, por mais talentosos que fossem, a condição de inferioridade social.

Além desse traço pessoal, sua arte traduz a vida intelectual e política de Vila Rica. É possível que o escultor tenha participado da Inconfidência Mineira; com certeza sabe-se que era amigo de Cláudio Manuel da Costa. Os seus trabalhos mais importantes foram de caráter religioso, nos quais ele fez críticas aos portugueses. No conjunto de esculturas que formam Os Passos de Cristo antes da Crucificação, na cidade de Congonhas do Campo, o genial mulato esculpiu os soldados romanos com expressão animalesca, numa clara associação entre aqueles que eram a repressão no tempo de Cristo e os portugueses que eram a
repressão na sociedade em que ele vivia. Há ainda o fato de que a imagem de Cristo morto tem a marca de uma corda no pescoço, o que muitos estudiosos entendem que se trata de uma representação de Tiradentes, morto na forca.

quarta-feira, 20 de março de 2013

''Martini diria que este é o pontífice de que a Igreja precisa''. Artigo de Georg Sporschill


agenda Martini para a eleição do papa, como foi chamada a minha última conversa com o arcebispo de Milão, leva exatamente à personalidade do novo pontífice. É quase como se o cardeal Martini tivesse este homem diante dos olhos quando expressou a sua própria dor pela Igreja europeia cansada e traçou a imagem de um bispo e papa preparado para os desafios atuais.

A opinião é do jesuíta austríaco Georg Sporschill, 66 anos, que escreveu o livro-entrevista com o cardeal Martini intituladoDiálogo noturnos em Jerusalém (Ed. Paulus, 2008). O artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera, 17-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Se eu considero as biografias do Papa Francisco e do cardeal Carlo Maria Martini, reconheço muitas correspondências. A agenda Martini para a eleição do papa, como foi chamada a minha última conversa com o arcebispo de Milão, leva exatamente à personalidade do novo pontífice. 

É quase como se o cardeal Martini tivesse este homem diante dos olhos quando expressou a sua própria dor pela Igreja europeia cansada e traçou a imagem de um bispo e papa preparado para os desafios atuais.

Um pastor na Igreja deveria ter ou assegurar através do seu séquito mais estreito a proximidade às pessoas e, sobretudo, a compaixão para com os pobres e os jovens. O novo papa provém de uma família italiana simples e numerosa de imigrantes na Argentina e adquiriu um grande conhecimento e competência social. 

Bergoglio é jesuíta e elogiou a pobreza, que viveu em primeira pessoa também como arcebispo de Buenos Aires, intérprete de um estilo de vida simples, longe do protocolo do Palácio, próximo das pessoas e daqueles que sofrem injustiças, razão pela qual ganhou a fama de "bispo dos pobres". Uma predileção pelos pobres que não diminuirá agora que ele reside no Vaticano. Ele conseguirá transformá-la em novas energias para a Igreja?

Graças à espiritualidade jesuíta, Bergoglio aprendeu a apreciar a liberdade. O fundador da ordem, Inácio de Loyola, confiava que Jesus estava enraizado e vivia em cada coirmão. Com essas raízes profundas, cultivadas através dosExercícios Espirituais, o jesuíta ganha uma liberdade com a qual pode se aventurar em toda obra, lugar ou encontro. Lá onde há mais necessidade. E com essa liberdade também ganha a coragem de enfrentar os poderosos quando afligem as pessoas. 

Bergoglio fez isso várias vezes na Argentina e arriscou conflito com o governo e com os poderes econômicos. Essa liberdade, que se justifica em Deus, será necessária ao novo papa para derrubar o sistema de poder na Igreja europeia e nas estruturas do Vaticano. O fato de o pontífice vir da América do Sul, por um lado, lhe permite uma distância dos problemas romanos e europeus; por outro, envolve também uma fraqueza. Ele conseguirá ir contra as antigas estruturas? Ele tem realmente as energias para mudá-las? Ele precisa de muita força interior e de uma liberdade igual à de João XXIII.

O novo papa não terá nenhuma resposta direta às demandas europeias. Mas ouvirá as pessoas. Resolverá os conflitos. Através da sua eleição, as Igrejas continentais e locais ganharão em consciência com relação à velhaEuropa. Confrontar-se-ão culturas diferentes com abordagens conservadoras e socialmente revolucionárias. Hoje, nenhum bispo ousa dizer o que o cardeal Bergoglio dizia na Argentina sobre as relações homossexuais. 

Papa Francisco, que no seu país denunciava os excessos da economia de mercado e a corrupção, inflamará as questões atuais da Igreja europeia. Eu confio no fato de que, nas polêmicas, as partes interlocutoras de boa vontade encontrarão uma resposta. Mas, em curto prazo, poderá haver fissuras perigosas. Através das fissuras dos grossos muros, porém, pode passar o Novo.

O novo papa argentino traz consigo também fardos pessoais. Foi-lhe contestada uma excessiva proximidade à junta militar. É difícil julgar de fora, porque, como responsável por uma grande comunidade, ele tinha que buscar o diálogo e ser prudente. Seguramente, ele não era um revolucionário na ordem governamental ou na Igreja. Talvez tenha se adaptado demais ao poder, algo do qual mais tarde ele se desculpou. Não se pode esperar mais de um homem. Ninguém é sem culpa. O ponto é se insistimos no erro ou aprendemos com ele.

Interessante, como todos destacaram, também é o nome que o papa escolheu: Francisco. Como jesuíta, eu logo pensei nos Santos da geração fundadora da Ordem, em Francisco Xavier, o grande missionário da Igreja que, no século XVI, chegou à ÁfricaÍndiaJapão. Aprendeu as línguas estrangeiras, respeitou as culturas e, com a sua devoção, abriu as portas da China aos missionários jesuítas. O papa, na verdade, referia-se a Francisco de Assispara afirmar como programa a vida simples e a crítica da riqueza.

Há rumores de que, no conclave de 2005, o cardeal Bergoglio foi o concorrente do cardeal Ratzinger. Atrás deBergoglio, estava o cardeal Carlo Maria Martini, que se retirou de partida por causa do aparecimento da doença de Parkinson. Diz-se que, naquele dia, Martini pegou pela primeira vez a bengala e que os dois jesuítas teriam aplainado o caminho para o Papa Bento XVI. Não sabemos se foi assim. Mas, talvez, os rumores indiquem o percurso pelo qual o Espírito Santo conduziu a Igreja e que hoje leva ao futuro.

A Igreja de Francisco é a do Concílio Vaticano II. Artigo de Massimo Faggioli


Quase paradoxalmente, o papa que fez da "continuidade com a tradição", Bento XVI, um dos mantras da teologia romana oficial, é sucedido hoje pelo Papa Francisco, que não tem medo de mostrar não só as descontinuidades de estilo com o antecessor, mas também as descontinuidades trazidas na Igreja Católica pelo Concílio Vaticano IIlex orandi, lex credendi, ou seja, a própria forma da oração expressa a fé dos crentes. 

A opinião é do historiador italiano Massimo Faggioli, professor de história do cristianismo da University of St. Thomas, nos EUA. O artigo foi publicado no sítio HuffPost.it, 19-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Entre as palavras-símbolo do novo pontificado, a poucos dias da eleição do Papa Francisco, estão pobreza, bondade, ternura, proteção. Se, nos primeiros encontros públicos, o Papa Bergoglio havia dado a interpretação autêntica da escolha do nome de Francisco – o santo de Assis por uma Igreja e mensageira de paz –, na homilia dessa terça-feira, 19-03-2013, o Papa Francisco enfatizou o tema da ternura como estilo essencial para uma forma de amor, a proteção, difícil de praticar em um mundo que premia o indivíduo e a competição: "Eu gostaria de pedir, por favor, a todos aqueles que ocupam cargos de responsabilidade em âmbito econômico, político ou social, a todos os homens e as mulheres de boa vontade: sejamos 'guardiões' da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de morte e destruição acompanhem o caminho deste nosso mundo!".

A lembrança dos mais fracos e frágeis é franciscano, mas sobretudo evangélico; a definição do poder do papa como serviço faz parte da reconfiguração do ministério petrino que o Papa Francisco anunciou nesses últimos dias: "Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço, e que o próprio papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço que tem o seu vértice luminoso na Cruz; deve olhar para o serviço humilde, concreto, rico de fé, de São José e, como ele, abrir os braços para guardar todo o Povo de Deus e acolher, com afeto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que Mateusdescreve no Juízo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão. Só quem serve com amor sabe proteger".

Até mesmo do ponto de vista do estilo litúrgico, a missa de início do pontificado do Papa Francisco enviou uma série de mensagens inequívocas. É a igreja do Vaticano II, uma Igreja que se remete sem embaraços ao momento fundamental de redefinição da teologia e do catolicismo do qual se celebra o cinquentenário entre 2012 e 2015. Na sua homilia e nos discursos proferidos até hoje, o papa recordou várias vezes o antecessor Bento XVI João Paulo II. Não mencionou explicitamente o Concílio: mas, para um bispo latino-americano como Bergoglio, o Vaticano II é parte essencial e quase óbvia dessa experiência de Igreja.

A renúncia de Bento XVI, a eleição de um papa latino-americano, as suas palavras sobre a "Igreja pobre para os pobres", a missa em Santa Ana e a saudação aos fiéis na saída da igreja, como fazem os párocos na América, o beijo da paz entre o bispo de Roma e o patriarca ecumênico de Constantinopla: nada disso tudo é pensável sem oVaticano II. A própria forma da celebração do início do Papa Francisco mostrou, na solenidade de um rito de menos de duas horas, a "nobre simplicidade" de que fala o documento do Vaticano II sobre a reforma da liturgia (a reforma mais importante da Igreja nos últimos 500 anos), a constituição Sacrosanctum Concilium, aprovada em 1963.

Fim do barroquismos, fim das nostalgias, fim das simbologias monárquicas e imperiais: o papa é papa não porque é monarca, mas porque é bispo de Roma. A forma desejada pelo Papa Francisco para a liturgia de início do pontificado transmite uma ideia de Igreja que remonta à Igreja chamada ao Concílio por João XXIII e é uma ideia de Igreja fiel à grande tradição cristã, e não às ideologizações antimodernas dela.

Esse início de pontificado reabre a discussão sobre o papel do papado nas relações ecumênicas entre as Igrejas, nas relações entre as religiões e civilizações. A presença do patriarca de Constantinopla, pela primeira vez na história, na missa de início do ministério do bispo de Roma; a presença de representantes das outras Igrejas, do judaísmo e do Islã, de outras comunidades religiosas; a presença do mundo inteiro na Praça de São Pedro falam ao mesmo tempo de uma Igreja que não pode voltar atrás nas trajetórias iniciadas há 50 anos.

Quase paradoxalmente, o papa que fez da "continuidade com a tradição", Bento XVI, um dos mantras da teologia romana oficial, é sucedido hoje pelo Papa Francisco, que não tem medo de mostrar não só as descontinuidades de estilo com o antecessor, mas também as descontinuidades trazidas na Igreja Católica pelo Concílio Vaticano IIlex orandi, lex credendi, ou seja, a própria forma da oração expressa a fé dos crentes. 

Foi o Concílio Vaticano II que reformulou para os tempos modernos a antiga ideia de uma "Igreja serva e pobre" – uma ideia que pouco se adapta à pompa vazia das liturgias imperiais, das quais o Papa Francisco não fez segredo de querer se livrar.

Fonte: Unisinos

quinta-feira, 7 de março de 2013

A JPT e a Jornada de Lutas da Juventude


A JPT e a Jornada de Lutas da Juventude


Em resposta a crise internacional, a ofensiva da direita e seus tentáculos tanto nos meios de comunicações como no poder judiciário, a paralisação da reforma agrária e o extermínio que tem ocorrido com a juventude, em especial a negra e da periferia, o ano de 2013 só poderia começar de uma forma: Com muita luta e povo na rua!
Nós da Juventude do Partido dos Trabalhadores em conjunto com mais de 30 entidades do movimento social organizado e juventudes partidárias, tais como CUT, UNE, UBES, MST, Enegrecer, CONEN, Pastorais de Juventude, Consulta Popular, UJS, PCR, entre outras, estaremos construindo uma grande Jornada de Lutas da Juventude. Os dias que seguirão de 25 de Março á 1º de Abril serão marcados por muita mobilização e unidade política da juventude nas ruas de todo o Brasil.
Sem prejuízo de acréscimo de demandas locais e respeitando a conjuntura política de cada Estado, a Jornada de Lutas da Juventude está sendo convocada com os seguintes eixos principais: a) Educação: 10% do PIB, 100% dos royalties e 50% do fundo social do pré-sal para educação; b) Trabalho: Redução da jornada, trabalho descente e conciliação do trabalho com estudo; c) Reforma Política; d) Democratização dos meios de comunicação e e) Direitos Humanos: Combate ao extermínio da juventude negra.
É tarefa da juventude do PT priorizar a Jornada de Lutas da Juventude e cumprir um papel protagonista na sua construção. Orientamos nossos militantes dos mais variados Movimentos Sociais a construírem a partir de seu movimento a Jornada, no entanto, a Juventude do PT não pode abrir mão de uma atuação partidária nesta mobilização. Devemos sair ás ruas mostrando a cara da Juventude do Partido dos Trabalhadores levando suas bandeiras, adesivos, faixas e camisetas. 
Neste sentido, em virtude dos ataques que nosso Partido tem sofrido da mídia golpista e da necessidade de irmos para ofensiva, sem prejuízo das demais pautas, a JPT deverá conceder uma atenção especial à luta pela reforma política, a profunda democratização de todos os meios de comunicação e combate ao extermínio da juventude.
Isto porque com a manutenção do atual sistema político e eleitoral do Brasil, marcado pela força do poder econômico, midiático e judicial, pela fragilização dos partidos e restrita participação popular, a juventude e as novas gerações não terão voz nem vez.
Desde sua fundação, o Partido dos Trabalhadores defende uma reforma estrutural da política brasileira que amplie os canais de participação e decisão direta do povo e ponha fim à privatização da política e da soberania popular.
Nestes últimos 10 anos tivemos muitos avanços no desenvolvimento econômico, na presença soberana do Brasil no mundo e na melhoria da vida do povo. No sistema político, no entanto, pouco mudou. No Congresso, o projeto de lei de Reforma Política relatado pelo companheiro Henrique Fontana (PT/RS) não consegue avançar devido às resistências dos políticos beneficiados pelo atual sistema e pela baixa mobilização social em torno do tema.
O momento histórico exige coragem e ousadia para consolidarmos as conquistas e aprofundarmos as mudanças iniciadas em 2003. A reforma política junto com a democratização das comunicações e combate ao extermínio que tem ocorrido com a juventude, são imprescindíveis para conquistarmos os corações e mentes da juventude para uma nova política e para democratizarmos o poder no país.
Os mesmos setores que intensificaram os ataques ao PT, numa verdadeira campanha de criminalização da política, querem na verdade impedir que avancemos nas transformações que o país precisa. Aqueles que por hora se utilizam do discurso anti-corrupção para nos atacar não querem enfrentar o problema do financiamento privado de campanha, não querem por fim á troca de favores entre empresários corruptores e políticos corruptos, são contra a reforma política e a democratização da mídia.
Para ampliar os espaços de participação e liberdade de expressão, outra de nossas grandes tarefas é colocar no centro do debate a democratização da palavra e da comunicação do país. É fundamental recuperar as resoluções da 1ª Conferencia Nacional de Comunicação, bem como reivindicar o compromisso do nosso governo com o tema. O desafio de regulamentar os artigos da Constituição que tratam da comunicação visam o enfrentamento dos monopólios do setor, a garantia do direito de resposta, a promoção das culturas regionais e nacional, a valorização da produção independente, a liberdade das emissoras comunitárias e a ampliação do acesso da população à banda larga e outras plataformas.
Outra pauta central para nós da JPT na Jornada de Lutas da Juventude é a defesa da vida dos jovens, em especial negros e negras da periferia. Nos 10 anos do governo do PT não conseguimos romper com a lógica militarizada da polícia brasileira, instituição que mais mata jovens no mundo. É papel nosso promover ações de enfrentamento a uma cultura de morte estabelecida na sociedade pautando políticas públicas para a juventude que atendam às especificidades das diferenças de realidade existente entre os jovens brasileiros.
Para a Juventude do PT, o ano de 2013 deve ser de muitas lutas e mobilizações por reformas democráticas e populares, a começar com a Jornada de Lutas da Juventude. Trata-se de ampliar as lutas sociais, inclusive para além das estreitas margens do parlamento e ganhar as ruas para uma plataforma que mobilize a classe trabalhadora, a juventude e os movimentos sociais.
Neste sentido, nós da JPT temos a missão de pautar este debate na construção da Jornada de Lutas da Juventude, com ações nas redes sociais, combinada com ações de rua e construção de comitês populares com as seguintes pautas:
• Ampliação dos Referendos, Plebiscitos e consultas diretas a população;
• Defesa de uma Reforma Política que fortaleça os partidos políticos, que permita maior intervenção do povo na política institucional e ponha fim ao financiamento privado das campanhas tendo como escopo um combate real a corrupção;
• Ampliação da participação da juventude e das mulheres nos espaços políticos;
• Democratização dos Meios de Comunicação;
• Combate ao extermínio da Juventude;
• Democratização e transparência do Poder Judiciário;
• Defesa da desmilitarização da polícia;
• Fortalecer e ampliar os direitos dos jovens e às PPJ’s: Pela aprovação do Estatuto da Juventude e a concretização do direito a experimentação, a cidade e a moradia.
• Defesa intransigente dos Direitos Humanos. Combate ao machismo, homofobia, racismo e as propostas de redução da maioridade penal.
Para dar conta deste imenso desafio a Juventude do PT deve atuar de forma unitária e descentralizada. Desta forma, a Direção Nacional da JPT orienta a sua militância para:
1. Acompanhar, construir e quando ainda não realizada convocar ás reuniões de construção da Jornada de Lutas da Juventude nos Estados. A prioridade de relação são ás entidades que assinam o manifesto nacional.
2. Interiorização da Jornada. As Secretárias Municipais da JPT devem organizar atividades nos municípios. Nestes casos ás pautas devem ser adequadas á política e conjuntura local.
3. Em virtudes dos mais variados níveis de organização da JPT e movimentos sociais nos municípios, podem ser organizadas variadas atividades e manifestações. Debates nas escolas e universidades, pichações e panfletagens também compõe a Jornada de Lutas.
4. Para que a Direção Nacional da JPT auxilie na divulgação das atividades e ao final da Jornada faça um memorial e um balanço de sua atuação, solicitamos que seja enviada para o e-mailjuventude@pt.org.br fotos, relatos e convocatórias das atividades que a JPT participou.
Direção Nacional da Juventude do PT

Manifesto da Jornada de Lutas da Juventude Brasileira



Unir a Juventude Brasileira:
“Se o presente é de luta, o futuro nos pertence”!
Che Guevara
As entidades estudantis, as juventudes do movimento social, dos trabalhadores/as, da cidade, do campo, as feministas, as juventudes partidárias, religiosas, LGBT, dos coletivos de cultura e das periferias se unem por um ideal: avançar nas mudanças e conquistar mais direitos para juventude.

É preciso denunciar o extermínio da juventude negra e das periferias a quem o estado só se apresenta através da violência. O mesmo abandono se dá no campo, que alimenta a cidade e segue órfão da Reforma Agrária e dos investimentos necessários à permanência da juventude no campo, de onde é expulsa devido à concentração de terras, à ausência de políticas de convívio com o semiárido. Já na cidade, a juventude encontra a poluição, a precarização no trabalho, a ausência do direito de organização sindical, os mais baixos salários e o desemprego, fatores ainda mais graves no que diz respeito às jovens trabalhadoras.

Essa é a dura realidade da maioria da População Economicamente Ativa no país, e não as mentiras da imprensa oligopolizada, que foi parceira da ideologia do milagre brasileiro e cúmplice da ditadura, ao encobrir torturas e assassinatos e sendo beneficiária da monopolização ainda vigente. É coerente que ela se oponha à verdade e à justiça, que se cale ante as torturas e ao extermínio dos pobres e negros dos dias de hoje, que busque confundir e dopar a juventude, envenenando a política, vendendo-nos inutilidades, reproduzindo os valores da violência, da homofobia, do machismo e da intolerância religiosa. mas eles não falam mais sozinhos: estamos aqui pra fazer barulho.

Queremos cidades mais humanas em vez de racismo, violência e intolerância. Queremos as garantias de um estado laico, democrático, inclusivo, que respeite os Direitos Humanos fundamentais, inclusive aos nossos corpos, à liberdade de orientação sexual e à identidade de gênero, num ambiente de liberdade religiosa.

Queremos reformas estruturais que garantam um projeto de desenvolvimento social e que abram caminhos ao socialismo. Lutamos por um desenvolvimento sustentável, solidário, que rompa com os valores do patriarcado, que assegure o direito universal à educação, ao trabalho decente, à liberdade de organização sindical, à terra para quem nela trabalha e o direito à verdade e à justiça para nossos heróis mortos e desaparecidos.

Para enfrentar a crise é preciso incorporar a juventude ao desenvolvimento do país. Incluir o bônus demográfico atual exige uma política econômica soberana que valorize o trabalho, a produção, o investimento e as políticas sociais, e não a especulação. Esse é o melhor cenário para tornar realidade os direitos que queremos aprovados no estatuto da juventude.

Iniciamos aqui uma caminhada de unidade e luta por reformas estruturais que enterrem o neoliberalismo e resguardem a nossa democracia dos retrocessos que pretendem impor os monopólios da mídia, ou golpes institucionais como os que ocorreram no Paraguai e em Honduras.
Desde essa histórica Plenária Nacional, unidos e cheios de esperança, convocamos a juventude a tomar em suas mãos o futuro dos avanços no Brasil, na luta pelas seguintes bandeiras consensualmente construídas:

1.Educação: financiamento público da educação
1.1.  10% PIB para Educação Pública
1.2.  100% dos royalties e 50% do fundo social do Pré-sal para Educação Pública
1.3   2% do PIB para Ciência, Tecnologia e Inovação
1.4   Por uma política permanente de valorização das bolsas de pesquisa
1.5   Democratização do acesso e da permanência na universidade
1.6   Pela expansão e a qualidade da educação do campo
1.7   Cotas raciais e sociais nas universidades estaduais
1.8   Curricularização da extensão universitária
1.9   Regulação e ampliação da qualidade, em especial, do setor privado

2. Trabalho – trabalho decente
2.1  Redução da jornada de trabalho sem redução de salário! 40 horas já!
2.2  Condições dignas de trabalho decente
2.3  Políticas que visem a conciliação entre trabalho, estudos e trabalho doméstico
2.4  Direito de organização sindical no local de trabalho
2.5  Contra a precarização promovida pela terceirização
2.6  Pela igualdade entre homens e mulheres no trabalho e entre negros/as e não negros/as

3.Por avanços na democracia brasileira - Reforma Política
3.1 Pela Reforma política
3.2 Combate às desigualdades sociais e regionais
3.3 Contra a judicialização da politica e a criminalização dos movimentos sociais
3.4 Pela auditoria da Divida Publica
3.5 Contra o avanço do capital estrangeiro na aquisição de terras e na Educação
3.6 Reforma agrária
3.7 Aprovação do Estatuto da Juventude

4. Diretos sociais e humanos: Chega de violência contra a juventude
4.1 Contra o extermínio da juventude negra
4.2 Contra a redução da maioridade penal
4.3 Garantia do direito à Memória, à Verdade e à Justiça e pela punição dos crimes da Ditadura
4.4 Garantia dos direitos sexuais e reprodutivos, como à autonomia sobre o próprio corpo e o combate à sua mercantilização, em especial das jovens mulheres
4.5 Pelo fim da violência contra as mulheres
4.6 Pela mobilidade urbana e o direito à cidade
4.7 Pelo direito da juventude à moradia
4.8 Desmilitarização da policia
4.9 Respeito à diversidade sexual, aos nomes sociais e criminalização da homofobia
4.10 Apoio à luta indígena e quilombola e das comunidades tradicionais
4.11 Contra a internação compulsória e pelo tratamento da dependência química através de uma política de redução de danos
4.12 Pelo direito ao lazer à cultura e ao esporte, inclusive com a promoção de esportes radicais

5. Democratização da comunicação de massas
5.1. Universalização da internet de banda larga no campo e na cidade
5.2 Políticas públicas para grupos e redes de cultura
5.3  Apoio público para os meios de comunicação da imprensa alternativa
5.4. Apoio ao movimento de software livre

Assinam este documento:
ABGLT,
ANPG;
APEOESP;
Associação Cultural B;
Centro de Estudos Barão de Itararé;
CONAM,
CONEM,
Consulta Popular;
ECOSURFI;
Enegrecer;
FEAB;
Federação Paulista de Skate;
Fora do Eixo;
Juventude da CTB;
Juventude da CUT;
Juventude do PSB;
Juventude do PT;
Juventude Pátria Livre;
Levante Popular da Juventude;
Marcha Mundial das Mulheres;
MST;
Nação Hip Hop Brasil;
Pastoral da Juventude,
PASTORAL DA JUVENTUDE DO MEIO POPULAR - PJMP
PCR;
REJU;
REJUMA;
UBES;
UBM,
UJS;
UNE;
UPES,
Via Campesina Brasil.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Astecas - Religião, culinária e cultura


Astecas oferecendo chocolate ao deus Vitzilipuztli.
Religião

A religião asteca assumia um caráter politeísta, onde animais e elementos da natureza eram predominantes. Muitos dos deuses eram animas que representavam algum elemento da natureza. O Colibri Azul, por exemplo, era um deus que representava o sol do meio-dia. Além disso, outras divindades tinham vinculação exclusiva com certas atividades profissionais ou cidades astecas.

Os templos religiosos dos astecas eram bastante complexos e marcava uma determinada contagem do tempo. A construção de suas pirâmides era realizada a partir de um conjunto de blocos de pedra que sofria alterações a cada cinqüenta e dois anos. Cada reforma simbolizava o agradecimento do povo aos deuses que conservaram a existência do mundo.

Culinária

O milho constituía a base alimentar do povo asteca. Através do preparo dos grãos produziam panquecas que eram recheadas por grãos secos, pequenos insetos, girinos e peixes. Outro alimento bastante utilizado era o cacau de onde se extraía uma bebida chamada xocoalt, que mais tarde deu origem ao chocolate. Várias outras sementes e temperos complementavam a culinária asteca. Animais eram domesticados para o abate e o consumo, e alguns deles só faziam parte da mesa das classes mais abastadas.

Cultura

O povo asteca deu grande importância ao desenvolvimento de diversas áreas do saber. Possuíam um calendário que muito se assemelhava aos padrões utilizados na contagem feita do tempo hoje. Sua linguagem era tanto pictórica quanto hieroglífica, ou seja, utilizavam de desenhos, símbolos e sons para fabricarem transmitirem uma mensagem. O desenvolvimento da escrita entre os astecas não tinha apenas um caráter funcional, muitos poemas, cantos religiosos e peças teatrais foram registradas por seu sistema de escrita.

A medicina entre os astecas era uma tarefa desempenhada por xamãs e curandeiros. Por meio de rituais e transes diagnosticavam a doença e o tratamento contra certo incomodo físico. A fitoterapia era um método recorrente na preparação de infusões, chás e pomadas destinadas aos mais variados tratamentos médicos. Por meio do conhecimento acumulado faziam sangrias, tratavam feridas, curavam cáries e doenças visuais e auditivas.

Entre os astecas também existiam arquitetos responsáveis por elaborar a construção de templos e obras públicas. Diversos palanques, rampas e represas eram elaboradas para o desenvolvimento da agricultura. Além disso, o complexo grau de elaboração arquitetônica era marcante nos templos e palácios astecas.

No âmbito da pintura e da escultura desenvolveram ricas técnicas de cunhagem em metais. Suas gravuras possuíam perspectiva e as imagens sempre eram retratadas de frente ou de perfil. Várias cores adornavam o padrão estético asteca, sempre marcado por cores quentes e vibrantes. Outro trabalho artístico asteca empregava a manipulação de penas e plumas utilizadas na confecção de adornos e acessórios utilizados por nobres, sacerdotes e autoridades políticas.

A riqueza da cultura e dos saberes dos astecas demonstra o notório potencial criativo deste povo. Além disso, a diversidade cultural asteca questiona o tradicional olhar eurocêntrico que coloca as demais civilizações como abaixo do “elevado grau” de desenvolvimento da cultura européia. Infelizmente, toda essa riqueza foi em grande parte perdida com o processo de dominação espanhola deflagrado no século XVI.
Por Rainer Sousa

Astecas - Economia, sociedade e política



Montezuma, um dos principais imperadores astecas.
Economia

Ao longo da expansão do povo asteca, a agricultura foi se tornando a sua principal atividade econômica. Mesmo habitando uma região com terrenos alagados, desenvolveram técnicas agrícolas que superavam as limitações naturais da região. Uma interessante técnica agrícola desenvolveu-se com a construção das chinampas.

As chinampas eram grandes esteiras de junco sustentadas por hastes fixadas no fundo dos lagos. Na superfície da chinampa era depositada a fértil lama encontrada no fundo dos lagos. Dessa forma foi possível ampliar a produção agrícola. Além disso, os astecas também utilizaram de canais de irrigação que tornavam possível o plantio em regiões menos férteis.

O comércio também figurava entre uma das principais atividades da economia asteca. Em grandes mercados, como o de Tlatelolco, pessoas realizavam trocas de artesanatos, alimentos, pequenos animais, utensílios e ervas medicinais. Além de realizarem o comércio através do escambo, também utilizavam a semente do cacau como uma moeda de troca.

Sociedade e Política

Baseada em uma forte tradição militarista, os astecas possuíam uma organização social vinculada pela posição política e econômica reservada a cada um dos seus membros. O Estado asteca era chefiado por um imperador que contava com o apoio de funcionários na administração das terras e construções do império. No topo da hierarquia social asteca estavam os nobres, os sacerdotes e os militares. Estas três classes exerciam importante papel na manutenção do império, na conquista de novas terras e no contato entre os homens e os deuses.

Logo em seguida estavam os comerciantes e artesãos. Muitos deles eram admirados pela habilidade em dominar complexas técnicas, como a ourivesaria. Estes, além de controlarem uma parte significativa da economia asteca, também circulavam pelo império realizando alguns trabalhos para o Estado e praticando a espionagem. Em razão de sua grande importância, muitos deles não eram obrigados a pagar tributos ao Estado.

A grande parcela da população era composta por camponeses. Estes seguiam as orientações do Estado no cultivo das terras e na construção de obras públicas. Cada camponês, ao se casar, recebia um lote de terras que deveria ser administrado por ele. Em troca do serviço prestado, os camponeses recebiam alimentos, vestimentas e tinham seus filhos introduzidos nas instituições de ensino do governo. No mais baixo estrato da escala social estavam os escravos que, de acordo com a condição que usufruíam, poderiam ascender socialmente.

A vasta população organizada sob o domínio asteca marcou a existência de uma das mais complexas sociedades da América pré-colombiana. A extensão dos núcleos urbanos e a organização sociopolítica asteca faziam frente e, em certos casos, ultrapassavam as dimensões dos centros urbanos da Europa do século XVI. Os colonizadores espanhóis ao chegarem na região fizeram vários relatos sobre a riqueza do povo asteca.
Por Rainer Sousa

Astecas


Os Astecas foram um dos mais notórios povos a ocuparem a região da Meso-América
Os Astecas foram um dos mais notórios povos a ocuparem a região da Meso-América

A civilização asteca ou mexica foi um dos mais notórios povos a ocuparem a região da Meso-América. De acordo com um relato mítico, a tradição religiosa asteca relata que seu povo saiu à procura de um território sagrado. Tal região estaria marcada pela existência de uma águia repousada sobre um cacto, que carregava em seu bico uma serpente. Depois de passarem anos vagueando pelas regiões da América Central, o povo asteca fixou-se na região do Lago Texcoco. Ali desenvolveram intensa atividade agrícola e fundaram a cidade de Tenochtitlán.

Explicações de cunho histórico dão conta que os astecas, por volta do século XIV, invadiram a região meso-americana valendo-se da frágil civilização tolteca que dominava aquela região. Em curto espaço de tempo, conseguiram formar um amplo império formado por centenas de centros urbanos e que contava com uma população de quase 15 milhões de habitantes. Durante sua história o império asteca dominou outros povos da região, dos quais cobravam tributos que abasteciam as principais cidades do império asteca.

No final do século XV, com a chegada dos espanhóis à região, os astecas sofreram a crise e o declínio de seu império. As pretensões colonialistas e a cobiça pelos metais preciosos incitaram os espanhóis a promoverem a destruição desta antiga civilização. Por meio das guerras, pilhagens e o apoio de povos inimigos os espanhóis conquistaram toda a região. Com isso, foram perdidas valiosas fontes de conhecimento da cultura desse povo que dominou o Vale do México por mais de duzentos anos.
Por Rainer Sousa

terça-feira, 5 de março de 2013

Quantos Papas renunciaram: relato de um historiador


Uma história de renúncias papais. Artigo de John W. O’Malley


Nos dias atuais em que muito se discute sobre o significado da renúncia de Bento XVI é bom que os cristãos conheçam um pouco melhor a tumultuada história dos Papas e de quantos renunciaram na história. Isso ajuda a aceitar a dimensão humana e até demasiadamente humana do Papado, evitar a papolatria e ter uma visão menos ideológica e mistificadora de como ocorrem od processos de escolha de um novo Papa pelo Conclave dos Cardeais. O texto é de um sério historiador jesuita nortemericano. LBoff
Quantos papas renunciaram? Essas questões não são tão fáceis de responder como parecem.
A opinião é do jesuíta norte-americano John W. O’Malley, professor de teologia da Georgetown University e autor de What Happened at Vatican II [O que aconteceu no Vaticano II]. O artigo foi publicado na revista America, dos jesuítas dos EUA, 11-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
renúncia do Papa Bento XVI no dia 28 de fevereiro levantou muitas perguntas sobre esse ato histórico. Quem foi o último papa a abandonar o seu ofício? Quantos papas renunciaram? Essas questões não são tão fáceis de responder como parecem.
O cânone 332 especifica que, para ser válida, uma renúncia deve ser “livre” – não coagido. Convencionalmente, descrevem-se nove ou dez papas como renunciatários. Esse número seria maior se incluíssemos os chamados antipapas, alguns dos quais, como o primeiro João XXIII (1410-1415), podem muito bem ter sido os legítimos requerentes. Não importa quão longa ou quão curta seja a lista, poucos renunciaram “livremente” no total. No entanto, quer livres ou forçadas, as renúncias parecem ter funcionado pelo bem da Igreja.
Papa Celestino V (1294) é o melhor candidato e também o mais famoso papa que renunciou livremente. Dante o colocou no inferno por essa “grande recusa”, isto é, por se esquivar da responsabilidade à qual Deus o escolhera (Inferno 3, 61), mas a maioria das pessoas pensa que, ao renunciar, Celestino V ”fez bem”, como afirmou um cronista da época.
A sua eleição foi incomum, para dizer o mínimo. Depois de um conclave que durou mais de dois anos, os cardeais, em um compromisso desesperado, escolheram Celestino V, um eremita piedoso. Se o papa não podia vir dos seus próprios números, os cardeais pareciam pensar, a melhor coisa era eleger uma pessoa santa que seria guiada pelo Espírito.Celestino V, que tinha seus 80 anos quando foi eleito, também era mal alfabetizado em latim e estava completamente esmagado pelos seus deveres. Em sua ingenuidade, ele se tornou uma peça involuntária nas mãos do rei Carlos II deAnjou. Eleito no dia 5 de julho, renunciou no dia 13 de dezembro. Ele foi papa, portanto, por cerca de cinco meses.
Será que ele renunciou livremente? Não há provas concretas em contrário. Ele explicou a sua ação dizendo que estava doente, que não tinha o conhecimento e a experiência necessários e que queria se retirar para a sua ermida. Contudo, espalharam-se rumores de que o homem que o sucedeu como Papa Bonifácio VIII usara uma influência indevida sobreCelestino V para persuadi-lo a renunciar, de modo que o caminho ficasse aberto à sua própria eleição. Quer esses rumores sejam verdadeiros ou falsos, os inimigos de Bonifácio VIII lançaram dúvidas incessantemente sobre a legitimidade do seu pontificado por causa do evento incomum e supostamente sem precedentes da renúncia. Como disse o arqui-inimigo de Bonifácio VIII, o rei Filipe IV da França, em uma mordaz nota de acusação, que incluía quase todos pecados e heresias imagináveis, “ele é acusado publicamente de tratar desumanamente o seu antecessor Celestino V – um homem de santa memória e de santa vida que talvez não soubesse que não poderia renunciar e que, portanto, de acordo com Bonifácio VIII, não poderia entrar legitimamente em sua Sé”.
Ponciano (230-235) é talvez o melhor candidato, em seguida, para um papa que renunciou livremente. Na perseguição do imperador Maximus Thrax, Ponciano foi deportado para as minas da Sardenha. Como tal deportação era o equivalente a uma sentença de morte no trabalho duro, ele abriu mão do papado no dia 28 de setembro de 235, a primeira data precisamente registrada da história papal. Ele fez isso a fim de que a Igreja de Roma pudesse escolher um sucessor e, assim, não ficaria sem um líder. Foi um ato nobre dele e, tecnicamente falando, livre, mas Ponciano não teria renunciado se a sua capacidade de governar não tivesse sido tirada dele à força.
O caso de Martinho I (649-653) é semelhante – e diferente. Ele se opôs fortemente à heresia monotelita (Cristo tem apenas uma vontade), que, por razões políticas, o imperador Constâncio II estava promovendo. Seguidores do imperador aproveitaram que o papa estava em Roma e levaram-no, doente e indefeso, a Constantinopla, para ser julgado por traição. Martinho foi condenado, açoitado publicamente e condenado à morte, embora a sentença fora trocada pelo banimento. Martinho queixou-se amargamente por ter sido abandonado pela Igreja romana, que não só não fez nada para ajudá-lo em seus problemas, mas, contra o seu desejo expresso, também elegeu um sucessor enquanto ele ainda estava vivo. Martinho, no entanto, concordou com o que havia sido feito e rezou a Deus para que protegesse o novo pastor da Igreja de Roma das heresia e dos inimigos.
Outras renúncias? Clemente I (92?-101), uma vez na lista, foi retirado por falta de provas convincentes. Para Marcelino(296-304), a prova, embora talvez não totalmente confiável, é melhor. Na perseguição do imperador Diocleciano, Marcelino supostamente fez sacrifícios aos ídolos, a fim de salvar a sua vida. De acordo com alguns relatos, ele foi formalmente deposto, mas, em todo caso, ao cometer esse ato de apostasia, ele foi automaticamente desqualificado do sacerdócio, o que deixou a Igreja romana sem um chefe. O que quer que tenha acontecido, certamente não foi uma renúncia “livre”. Bento V (964), que talvez deveria ser considerado mais como um antipapa do que o genuíno, reinou por apenas um mês antes de ser deposto por um sínodo instigado pelo imperador Otto I. Dificilmente livre.
Bento IX (1032-1045) é um caso curioso. Ele era sobrinho tanto do Papa Bento VIII quanto do Papa João XIX. Para manter o papado dentro da família, seu pai subornou os eleitores em favor do futuro Bento IX, um leigo ainda na casa dos seus 20 anos. Nos próximos 13 anos, Bento IX despertou hostilidade pelas suas maquinações políticas e provocou escândalo pela sua vida abertamente dissoluta. Por volta de 1045, a sua situação não só se tornou instável, mas, segundo alguns, ele também queria se casar. Naquele ano, ele renunciou em favor do seu padrinho, mas não antes de se assegurar por parte dele uma grande soma de dinheiro. Decisão livre ou não, ela certamente foi sórdida. A simonia que isso envolveu lançou dúvidas sobre a legitimidade do novo papa, Gregório VI. No ano seguinte, o imperador Henrique IIIdesceu até a Itália, vindo da Alemanha, e fez com que Bento IX e Gregório VI fossem depostos em um sínodo em Sutri, nos arredores de Roma.
Um terceiro requerente ao papado, Silvestre III, também foi condenado no sínodo. O imperador, revoltado com a situação romana, nomeou um alemão honesto como papa, Clemente II, um ato que acabou sendo o primeiro passo para resgatar o papado do atoleiro moral em que havia caído e que, portanto, foi o prelúdio imediato à Reforma Gregoriana.
O último papa na lista é Gregório XII (1406-1415). Sua renúncia efetivamente marcou o fim do Grande Cisma do Ocidente, aquele período da história da Igreja entre 1378 e 1415, quando dois, e depois três, homens alegavam ser o legítimo papa. Diante da insistência do rei alemão (mais tarde imperador) Sigismundo, o primeiro Papa João XXIII, um dos demandantes, com grande relutância, convocou um concílio em Constança para resolver o cisma. Uma vez que o concílio começou suas sessões, ficou claro para todo mundo que, para salvar o papado, a lista de candidatos devia ser limpada, o que significava a renúncia ou a deposição de todos os três requerentes. Com isso, João XXIII fugiu do concílio, na esperança de interrompê-lo. Ele teve a infelicidade, no entanto, de ser capturado e levado de volta para o concílio como um prisioneiro. Julgado e deposto, João XXIII, agora dividido em espírito, admitiu os erros que havia feito, confirmou a autoridade do concílio e renunciou formalmente a qualquer direito que ele poderia ter ao papado.
O segundo requerente, Bento XIII, recusou-se a reconhecer ou lidar com o concílio e, consequentemente, foi deposto por ele. Após a sua deposição e a eleição bem sucedida do novo papa, Martinho V, o apoio a Bento XIII evaporou, exceto por alguns cabeças-duras.
Restava o terceiro demandante, Gregório XII. Uma vez que João havia sido deposto, o concílio entrou em negociações com Gregório XII para tentar persuadi-lo a renunciar. A essa altura, Gregório XII tinha apenas um pequeno séquito, provavelmente viu os maus presságios e, para dar-lhe o benefício da dúvida, estava finalmente pronto para fazer o que podia para acabar com o cisma. Ele concordou em renunciar sob a condição de ser autorizado a convocar o concílio de novo, de modo a não conceder nenhuma legitimidade à convocação original do seu rival. No dia 4 de julho de 1415, o concílio ouviu a sua bula solenemente convocando-o e, depois, ouviu o anúncio da sua renúncia. Desde essa data, nenhum outro papa “renunciou” – até o dia 28 de fevereiro de 2013.