quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Mais de 60 escolas em São Paulo ainda estão ocupadas

Fonte da Foto: G1

Pelo menos 63 escolas continuam ocupadas no estado de São Paulo e 37 na capital, de acordo com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). Segundo a Secretaria da Educação do estado, são 62 escolas ocupadas, sendo 38 na capital.
A reportagem e de Flávia Albuquerque, publicada por Agência Brasil, 15-12-2015.
Em nota, a secretaria informou que todos os alunos da rede estadual têm suas matrículas garantidas para o ano letivo de 2016 e que o primeiro dia de aula, que ocorreria em 1º de fevereiro, será postergado para o dia 15 do mesmo mês, para possibilitar que as mudanças necessárias ao começo das aulas possam ser feitas sem prejuízo aos estudantes.
Entre as mudanças estão nova matrícula para os alunos das escolas que teriam impacto da reorganização. “Como todas as matrículas voltam ao estágio inicial, os estudantes continuarão na mesma escola, em processo que será feito automaticamente, sem a necessidade de solicitação por parte dos responsáveis. A consulta pela internet poderá ser feita a partir do dia 5 de janeiro, no portal da Secretaria da Educação”, diz a nota.
Foi determinado ainda novo período de transferência dos estudantes (de 5 a 11 de janeiro). Todos os alunos que já pediram transferência para outras unidades de ensino deverão refazer a solicitação em decorrência da nãoreorganização das escolas. Haverá alteração e adaptação de toda a logística envolvendo merenda escolar, transporte, mobiliário e kit de material escolar, além de alteração e adaptação da rede de suprimentos, por meio do qual as escolas podem adquirir insumos de limpeza, higiene e material de escritório.
Segundo a secretaria, o encerramento do ano letivo de 2015 é feito normalmente em 96% das escolas da rede estadual. Nos locais onde houve ocupações, um calendário complementar está sendo validado nas diretorias de Ensino, garantindo a todos os alunos os 200 dias letivos, o que poderá ocorrer entre os meses de dezembro deste ano e janeiro de 2016. O período de atribuição de aulas ocorrerá do dia 1º ao dia 5 de fevereiro.
Fonte: Unisinos

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Os mártires de Chimbote e o escândalo dos pobres. Entrevista com Gustavo Gutiérrez


O pai da teologia da libertação do Peru fala do Pe. Sandro Dordi e dos dois franciscanos poloneses que serão proclamados bem-aventurados no próximo sábado em Chimbote: "Mortos peloSendero Luminoso porque constituíam uma alternativa não violenta ao plano revolucionário. A denúncia da pobreza por amor 'complica' sempre a vida".
A reportagem é de Giorgio Licini, publicada no sítio Mondo e Missione, 02-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No Peru, já estamos às vésperas da beatificação dos mártires de Chimbote, três missionários – o sacerdote fidei donum de Bérgamo, na ItáliaPe. Sandro Dordi, e os dois franciscanos poloneses,Pe. Miguel Tomaszek e Pe. Zbigniew Strzalkowski – mortos em 1991 pela guerrilha maoísta do Sendero Luminoso.
Eles vão se tornar bem-aventurados no sábado, com um rito que será realizado justamente em Chimbote, no estádio da cidade. O que significa essa beatificação para o Peru? E – mais em geral – o que ela diz sobre o tema dos pobres e da sede de justiça, ferida ainda aberta nas periferias do mundo de hoje?
Perguntamos isso ao Pe. Gustavo Gutiérrez – o teólogo peruano considerado o pai da teologia da libertação – que, no mesmo país dos mártires deChimbote, nasceu, desenvolveu o seu pensamento e ainda vive.
Eis a entrevista.
O que você pensa sobre a próxima beatificação dos três mártires de Chimbote?
São pessoas que eu encontrei e conheci apenas ocasionalmente. Mas eu diria que, para além da sua vida pessoal, podem ser feitas algumas considerações para toda a América Latina. Como é possível que em um continente de maioria cristã e católica tenha havido e ainda haja tantas pessoas que são mortas? É uma coisa que faz refletir. Esses religiosos são mártires porque foram mortos, como se diz, em odium fidei. Mas é preciso entender, mais precisamente, que isso aconteceu por causa da caridade, consequência da sua fé. Portanto, não foi uma questão de "doutrina" sobre a fé, mas de ação pela justiça. Eles também não desejavam ser mortos. O martírio traz o pecado à baila. Quando há uma pessoa morta, isso significa que há um assassino. E ninguém deseja que seja cometido um pecado desse tipo.
Quem são os pobres hoje? O que significa estar com os pobres?
Estar com os pobres significa ser cristão. A pobreza é a total falta de direitos de vários tipos: econômicos, culturais, raciais... A pobreza é a condenação desejada à marginalização e à irrelevância. É a substituição da justiça pela esmola. É o fatalismo de crer que a pobreza é inevitável e não um pecado do homem. A pobreza é complexa e tem muitas causas, mas não uma fatalidade. A denúncia da pobreza por amor "complica" a vida para outras pessoas. Daí o martírio. Ninguém está destinado a ser pobre. Não é a vontade de Deus.
O que você lembra do Bem-aventurado Dom Romero?
Eu o conheci em alguns encontros e depois fui ao funeral que foi uma autêntica tragédia, em um clima muito tenso, com mais de 40 mortos, boa parte deles pisoteados depois dos primeiros tiros. Falou-se de uma "conversão" de Romeroaos pobres e à justiça durante o seu breve episcopado de apenas três anos em San Salvador. Na realidade, Romero era de formação, digamos assim, tradicional, mas não um "conservador". Ele só quis denunciar as causas da pobreza e os casos de homicídio. Ele quis estar ao lado dos pobres. Não é preciso ignorar ninguém, mas a nossa primeira preocupação são os pobres. A justiça não é marginal ou alternativa ao amor. É a primeira expressão do amor. Não podemos separar as duas coisas.
O que você pensa do terrorismo político como o que se abateu no passado sobre o seu país com o Sendero Luminoso e outros movimentos?
É absolutamente criminoso. Durante os conflitos internos da América Latina, a maioria das vítimas foram causadas pelas forças armadas governamentais ou relacionadas com os grupos de poder. Mas também grupos terroristas insurgentes fizeram muitos mortos, como os mártires de Chimbote. Pessoalmente, eu condeno essas ações do modo mais absoluto. Muitas vezes, os mártires dos terroristas caíram pelo fato de que, com a sua atenção e amor às pessoas, constituíam uma alternativa não violenta ao plano revolucionário. Eram como que "concorrentes" no território. Estavam fora da disputa política.
Que relação há entre pobreza e morte?
O conflito interno no Peru provocou cerca de 70 mil mortes. Dois terços delas entre os grupos indígenas mais desfavorecidos. Mais uma vez, morreram os mais pobres. A pobreza é a principal causa de morte no mundo. Basta pensar nos 800 milhões de famintos que ainda temos. Trata-se de uma forma de violência institucional. É justo falar de "escândalo" também como categoria teológica. A desigualdade social é uma grande ferida. Uma grande pedra de tropeço para o anúncio do Evangelho e a realização das promessas.
Mas a religiosidade na América Latina se torna cada vez mais espiritualista e talvez até fundamentalista...
É verdade. De fato, cresce também o pentecostalismo católico. Eu digo que tudo pode ajudar, com uma única condição: que não se crie uma separação com a realidade. A categoria da realidade é a que deve nos guiar. O Papa Bento XVIfez uma afirmação muito importante para a assembleia dos bispos latino-americanos em Aparecida, Brasil, em 2007: "A santidade não consiste em fugir do conflito". Vivemos em um tempo que definimos de "pós" em todos os sentidos: pós-industrial, pós-moderno, pós-ideológico... Mas ainda estamos longe de uma situação de pós-pobreza. Essa é a realidade!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Ocupações de escolas em SP já mudaram ensino, diz antropóloga



O governo do Estado de São Paulo pode até não voltar atrás na decisão de reestruturar o ensino, mas, na opinião da antropóloga Alba Zaluar, a ocupação de mais de 150 escolas pode modificar a estrutura da educação pública no país.

A reportagem é de Thiago Varella, publicada por Uol, 26-11-2015.

Zaluar, que já foi diretora de escola pública em um bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, considera que a ocupação vai fazer o ensino avançar muito em todo o país.

"Eu acho a ocupação uma coisa linda, maravilhosa. Isso pode, enfim, modificar a divisão que há entre o que é instituição do Estado e o que faz parte do cotidiano das pessoas. A escola é a mistura dos dois", afirmou.

Até a noite da quarta-feira (25), estudantes ocupavam 151 escolas públicas em todo o Estado de São Paulo, em protesto contra o fechamento de colégios e o projeto de reorganização da rede de ensino.

Pobreza e aprendizagem

A antropóloga apresentou, na última segunda-feira (23), uma análise sobre as oportunidades de educacionais para pessoas de baixa renda durante a 3ª Reunião da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede Cpe), que foi organizada no Rio de Janeiro.

Na visão de Zaluar, que dedica sua carreira principalmente ao estudo da antropologia urbana e da antropologia da violência, não é porque um estudante é pobre que ele vai necessariamente ter mais dificuldade na escola. A antropóloga tenta desconstruir alguns conceitos bastante difundidos no meio acadêmico que consideram a pobreza como uma algo consensual e homogêneo e isso, segundo ela, não existe.

"Em qualquer classe social há diferentes maneiras de criar as crianças. Não há como generalizar isso. O autoritarismo, por exemplo, não conduz ao um bom desenvolvimento do cérebro. Mas isso não significa que os mais pobres tendem a ter uma forma de criação que é mais prejudicial ao desenvolvimento do cérebro. Autoritarismo ocorre em várias classes sociais e em vários lugares, como a escola, a vizinhança", afirmou.

Zaluar defende que a escola leve em consideração a bagagem cultural que as crianças trazem. Principalmente, as mais pobres, que têm muito a acrescentar em uma sala de aula.

"Os jovens de classes sociais mais baixas têm um sentido de concreto mais aguçado. Eles sabem mais das coisas práticas da vida e isso não é valorizado. É necessário ter uma integração maior entre escola e criança", disse.

Por isso, para Zaluar, ações que misturam a escola com a comunidade onde o colégio está inserido tendem a melhorar a qualidade do ensino e, claro, envolver toda a sociedade com a educação.