quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Empresas de tecnologia que dominaram o mercado e desapareceram


O mundo da tecnologia está sempre mudando e às vezes quem está em alta hoje poderá ser apenas uma lembrança no futuro. A rede social Orkut já foi o site do gênero de maior influência no Brasil, mas em janeiro foi ultrapassado pelo Facebook e continua perdendo público. Abaixo você conhecerá esta e outras histórias semelhantes.


Orkut
Por que foi considerada promissora? Criada em 2004 com o objetivo de ajudar as pessoas a se interligarem pela rede, o site teve um grande reinado como principal rede social do país, tanto que o Google transferiu a sede física do site da Califórnia para o Brasil.
O que levou à decadência? Apesar de esquecida por boa parte dos brasileiros, o Orkut continua muito bem em seus números. Apesar disso a rede social nunca teve um cuidado grando por parte do Google, que é acusado por alguns de não dar atenção estratégica ao site. Gifs animados, correntes e postagens inconvenientes são apontados por muitos como causas prováveis para o declínio do Orkut. A verdade é que a migração dos usuários do Orkut para o Facebook é notável.


Cadê?
Por que foi considerada promissora? Quem navegava na Internet no final da década de 90 com certeza conhecia o Cadê?. O buscador brasileiro era uma das opções mais conhecidas em uma época que novos sites eram colocados manualmente nos buscadores. A empresa foi crescendo a ponto de ter como um dos sócios o dono do Ibope.
O que levou à decadência? A Internet foi evoluindo e os buscadores também. O tamanho do público do Cadê? foi crescendo tanto que a empresa foi comprada por diversas outras companhias de tecnologia até parar no Yahoo!, onde funciona até hoje, mas foi perdendo destaque e perdeu de vez o reinado para o Google.


AOL
Por que foi considerada promissora? No início da década de 1990 a American Online foi uma das primeiras empresas a fornecer serviços de Internet fora de universidades e complexos militares. Uma de suas principais estratégias era fornecer disquetes ou CDs com discadores para conexão. Era tão fácil conseguir um CD da AOL que algumas pessoas usavam os discos como decoração de bicicleta e outras brincadeiras. A importância da empresa era tamanha que em 2000 ela se fundiu com a Time Warner.
O que levou à decadência? Sua fusão com a Time Warner não foi bem sucedida e foi considerada um erro pelos executivos do estúdio. Enquanto isso as coisas não iam bem no Brasil. A estratégia de inundar o mercado com CDs de acesso não deu certo por aqui e em 2006, acumulando um prejuízo de 186 milhões de Dólares, a AOL América Latina foi fechada. A base de usuários da empresa foi vendida para o Terra.


ICQ
Por que foi considerada promissora? Em 1997 as pessoas dependiam de salas de bate papo para se comunicarem instantaneamente na Internet. O que parece extremamente simples com o chat do Facebook ou pelo MSN era revolucionário an época e o ICQ dominou o mercado de mensageiros instantâneos. A Mirabilis, empresa que criou o programa foi comprada pela AOL.
O que levou à decadência? O ICQ existe até hoje mas ele começou a cair no esquecimento quando o MSN se popularizou, principalmente no Brasil. Os usuários se incomodaram bastante com a colocação de anúncios nas janelas de bate-papo. O irônico é que pouco tempo depois o MSN também colocou os tais anúncios. A chegada das redes sociais acabou sendo o golpe final nos mensageiros instantâneos e até quem era fiel ao MSN está passando a usar o chat do Facebook.


Napster
Por que foi considerada promissora? O Napster foi a primeira rede extremamente popular de troca de arquivos. Com foco em arquivos de música (principalmente em MP3), as pessoas podiam enviar as seus CDs e pegar coleções completas sem pagar um centavo. O Napster era tão popular no ano 2000 que o número de usuários quadruplicava toda semana.
O que levou à decadência? A indústria fonográfica não gostou da ideia de pessoas trocando músicas protegidas por direitos autorais sem pagar nada às gravadoras. Diversas gravadoras entraram com processos contra o Napster por incentivo à pirataria e em março de 2001 o serviço foi fechado. O site passou por diversas reformulações e hoje é um serviço legalizado de streaming de música. Enquanto o Napster andava na linha outras alternativas para troca de arquivos como Kazaa, eDonkey e torrents tomaram a frente, deixando o Napster no esquecimento.


Digg
Por que foi considerada promissora? O site que reune notícias e deixa que seus usuários escolham quais merecem mais destaque na página foi um dos mais populares da Internet, chegando a atrair 236 milhões de visitantes por ano. Uma página ou post de blog que caísse nas graças do Digg poderia apresentar um expressivo aumento nas visitas.
O que levou à decadência? Diversas modificações no sistema, no designs e a saída de diversos usuários para outros serviços como Reditt e o próprio Facebook resultaram numa grande queda nas visitas do Digg. As propriedades do site foram divididas em três partes e vendidas. O serviço ainda funciona mas sem o poder apresentado anteriormente.


Geocities
Por que foi considerada promissora? Nos primórdios da Internet manter uma página online era caro e vários serviços ofereciam alternativas gratuitas para quem queria um espaço para expor suas ideias. Muito antes dos blogs, era no Geocities que as pessoas escreviam sobre todo tipo de assunto, geralmente abusando dos Gifs animados. Em 1999, o Geocities era o terceiro site mais visitado de toda a Internet.
O que levou à decadência? O barateamento dos registros de domínios e de hospedagem de sites fizeram com que muitos migrassem do serviço e a chegada de plataformas para blogs como Blogger e Wordpress tirou a popularidade do Geocities. Comprado pelo Yahoo! em 1999, o serviço foi fechado em 2009, quando tinha cerca de 38 milhões de páginas criadas pelos usuários. Hoje somente o Japão tem acesso ao Geocities.

Fonte: Yahoo.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Civilizações Orientais Antigas : China, Índia e Japão

Olá pessoal, voltando as nossas aulas, iremos aprender um pouco mais das civilizações antigas orientais: China, Índia e Japão.

Episódios da série "Grandes Civilizações", que conta de maneira didática a história de povos importantes para a evolução da humanidade.

China





Índia





Japão 





Aguardo comentários de todos.

Agradecendo a TV Escola por essa grande variedade de informações.


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Vetos de Dilma à MP do Código Florestal impõe derrota para ruralistas


A presidente Dilma Rousseff vetou nove itens da medida provisória que regulamenta o novo Código Florestal e impôs, assim, uma dura derrota à bancada ruralista do Congresso Nacional, que perdeu muito com a nova redação. As lacunas deixadas pelas modificações e supressões feitas serão repostas por um decreto presidencial que será publicado hoje no "Diário Oficial da União".

A opção pelo uso de um decreto em vez de uma MP é uma estratégia para encerrar o embate com os ruralistas, que conseguiram algumas vitórias sobre o governo nas votações das MPs no Congresso.
A reportagem é de Tarso VelosoDaniela Martins e Bruno Peres e publicada pelo jornal Valor, 18-10-2012.

A estratégia do governo foi defendida pelo advogado-geral da União, Luís Adams. "O próprio Congresso prevê que as regras de proteção das áreas consolidadas poderão e deverão ser editadas por decreto no PRA [Programa de Regularização Ambiental]. O que a presidente fez ao regulamentar o PRA foi estabelecer a proteção mínima nessa área. Não há nenhum problema em fazê-lo. Essa restrição está prevista tanto na lei que o Congresso aprovou quanto no decreto que acaba sendo adotado", defendeu Adams.

O artigo 61, mais conhecido como "escadinha", principal polêmica do texto cercada de lobbies, foi vetado e a presidente vai voltar com a redação original proposta por ela ao enviar a MP para o Congresso. A ferramenta definia o quanto de mata em beira de rios deve ser recuperada, conforme o tamanho das propriedades. "A presidente vetou todo e qualquer tema que colocasse em risco a proteção ambiental", disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

Pelo texto original, quanto maior a propriedade rural, maior seria a recomposição, mas a proposta foi alterada pelos parlamentares, reduzindo a área de reflorestamento para médias e grandes propriedades. A mudança desagradou a presidente Dilma Rousseff, que defendia o texto original da MP enviada por ela ao Congresso.

Durante as discussões na comissão mista, deputados e senadores reduziram de 20 para 15 metros a recomposição das APPs, em margens de rios de até 10 metros, em propriedades de 4 a 15 módulos fiscais. Em propriedades acima de 15 módulos fiscais, independentemente da largura do curso de água, a recomposição ficará entre 20 a 100 metros. Neste caso, a definição da área de reflorestamento será decidida pelo PRA, que ficará a cargo dos Estados. Hoje, a competência para delimitar essas áreas é compartilhada entre os entes federativos, sendo que na tramitação do Código Florestal os parlamentares da base aliada defenderam que o governo não abre mão dessa prerrogativa.

Outro ponto vetado é a possibilidade de serem usadas monoculturas de árvores frutíferas na recuperação de APPs em vez de vegetação nativa. A ideia de formar pomares em torno dos rios foi muito criticada por ambientalistas.

A recuperação de rios intermitentes também foi vetada. "Não podemos deixar que os pequenos e médios produtores tenham o mesmo direito dos grandes. O direito dos pequenos tem que ser assegurados".

O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) disse que a decisão é ditatorial e desmoralizante para o Congresso. "O direito a veto é uma prerrogativa dela [presidente] e isso não se discute, mas é arrogante e prepotente. O que me preocupa é como ela vai suprir todos os vetos. O decreto não pode criar. Se for assim é inconstitucional."

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Homero Pereira (PSD-MT), afirmou que os vetos são um "golpe" ao acordo firmado entre ruralistas e governistas. "O governo calou no momento em que lhe era desfavorável e usou toda sua força no momento que é desfavorável à agricultura. Vamos fechar o Brasil, não vamos plantar mais nada e importar de outros países já que nossos produtores vão estar na ilegalidade", afirmou.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Vaticano II, um risco ou em risco? Entrevista com Massimo Faggioli


No dia 9 de dezembro de 1965, os 2.500 padres conciliares se despediram e voltaram às suas Igrejas locais. Mas o Concílio não havia terminado. Esses bispos que haviam entrado no Concílio como representantes ou embaixadores de uma Igreja européia saíam dele como pastores de um cristianismo universal.

A reportagem e a entrevista é de Marcello Matté, publicada na revista Settimana, 14-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O Concílio havia amadurecido as sementes do movimento bíblico, da renovação litúrgica, da recuperação patrística e do caminho ecumênico plantadas em território europeu e norte-americano, e que sobreviveram à "crise do modernismo". Agora começava a colheita: restava acolher e interpretar o magistério do Concílio.
E a Cúria Romana não pretendia renunciar ao controle sobre o resultado final desse evento que, justamente pela Cúria, havia sido minimizado no momento da sua convocação, e depois havia ido "além das expectativas" no seu desenvolvimento.
Massimo Faggioli é doutor em História da Religião e professor de História do Cristianismo no Departamento de Teologia da University of St. Thomas, de MinnesotaEstados Unidos.
Eis a entrevista.

Professor Faggioli, como evoluiu a acolhida do Concílio por parte da Igreja nesses 50 anos?


Nos primeiros anos após o Concílio, o leque "ideológico" dos teólogos parecia unânime na acolhida entusiasmada dos documentos finais e das novidades propostas pelo Concílio. A tensão entre "letra" e "espírito" do Vaticano II não tinha grande peso naqueles dias, nem havia se manifestado ainda o atrito entre quem lia o Concílio em "continuidade" com a tradição católica no seu conjunto e quem, ao invés, lia em uma "descontinuidade" com o catolicismo daquele "longo século" que vai de Gregório XVI Pio XII.

Esse unanimismo teológico particular não duraria muito tempo. Já no fim do Concílio, o debate sobre o papel da Constituição Pastoral Gaudium et Spes havia separado em lados opostos os teólogos do século XX, entre neoagostinianos (J. DaniélouH. de LubacJ. Ratzinger, H. U. von Balthasar) e neotomistas (M.-D. ChenuY. Congar,K. RahnerB. LonerganE. Schillebeeckx).
O nascimento da revista Concilium (1964) representa a tentativa mais importante de divulgar o Vaticano II como obra de estudiosos representantes de uma vasta maioria conciliar (KüngCongarRahnerSchillebeeckx). Mas já em 1970, o grupo registrou as primeiras deserções (de Lubacvon BalthasarRatzinger), polarizando a atitude dos teólogos com relação ao Vaticano II. A revista internacional Communio, fundada em 1972 por Ratzingervon Balthasarde Lubac, marcava a tomada de distância da progressista Concilium. Os redatores da Communio preferiam interpretar o Vaticano II segundo aqueles que eles mesmos chamavam de uma "hermenêutica da continuidade" e segundo uma abordagem mais agostiniana com relação à relação Igreja/mundo moderno.

Que outros eventos separaram as diversas interpretações do Vaticano II?

O impacto de 1968 sobre a Igreja Católica e a encíclica Humanae Vitae de Paulo VI tiveram um papel importante na recepção do Vaticano II. Eles deram origem à primeira "revisão", menos entusiasta e mais prudente, das interpretações do Concílio e iniciaram uma leitura mais ligada a posições ideológicas do que à história da teologia e da Igreja.

Por um lado, as controvérsias na Igreja do início dos anos 1970 acentuaram as distâncias entre as diversas interpretações. Por outro lado, a minoria "ultraconservadora", ao contrário, se soldou no combate contra o Vaticano II. A pequena "seita" criada por Dom M. Lefebvre em 1970 – a Sociedade São Pio X – efetivamente representou a mais embaraçosa (para dizer o mínimo) expressão do catolicismo contemporâneo explicitamente hostil ao Vaticano II, enraizado em uma cultura teológica pré-moderna e caracterizada por uma visão política antidemocrática.
A excomunhão de Dom Lefebvre em 1976 não influenciou muito sobre o debate em torno do Concílio, mas ocancelamento da excomunhão dos quatro bispos ordenados por Lefebvre por obra de Bento XVI (2009) trouxe à tona uma fratura – coberta mas incisiva – entre as posições europeia e norte-americana com relação ao Concílio.

Que impulsos para a recepção do Vaticano II vieram com a eleição de João Paulo II, bispo de Cracóvia muito ativo na comissão conciliar para a Gaudium et Spes?

Nos anos 1980 e 1990, o debate sobre o Vaticano II abandonou a academia teológica e foi mais influenciado pela "política doutrinal" da Santa Sé, em particular de João Paulo II e do cardeal J. Ratzinger, nomeado prefeito daCongregação para a Doutrina da Fé em 1981. Ambos participantes de relevo do Vaticano II, deram origem a uma política complexa, às vezes contraditória, acerca da herança do Concílio e do seu papel no catolicismo contemporâneo. Depois da reinterpretação teológica do Vaticano II realizada com a "recodificação" do direito canônico, que levou ao Código de 1983, João Paulo II convocou uma assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos em 1985, por ocasião do 26º aniversário do encerramento do Concílio. Estabelecia-se o objetivo de superar as polarizações e chegar a um consenso mais amplo.

O Sínodo e o seu Relatório Final confirmaram (!) que "o Concílio é uma legítima e válida expressão e interpretação do depósito da fé, como se encontra na Sagrada Escritura e na viva tradição da Igreja" e forneceu algumas diretrizes para uma interpretação fiel. O Sínodo constatou que "também houve certas sombras no tempo pós-conciliar, devido em parte a uma não plena compreensão e aplicação do Concílio, em parte a outras causas. De nenhum modo, no entanto, pode-se afirmar que tudo o que aconteceu depois do Concílio foi causado pelo Concílio" (EV9/1781).

Quanto à interpretação, "não é lícito separar a índole pastoral do vigor doutrinal dos documentos. Assim também não é legítimo separar espírito e letra do Concílio" (EV 9/1785). Quanto à hermenêutica da continuidade ou descontinuidade, o Sínodo reconhece a complexa articulação entre tradição e transição na teologia católica, especificando que "o Concílio deve ser compreendido em continuidade com a grande tradição da Igreja e, ao mesmo tempo, da própria doutrina do Concílio devemos receber luz para a Igreja hodierna e para os homens do nosso tempo" (EV9/1785).

A abordagem diversificada e às vezes contraditória de João Paulo II ao Concílio, a sua decisão de convocar o Sínodo de 1985 e o resultado geral do Sínodo com relação ao debate sobre o Vaticano II foram, de algum modo, ofuscados pelo Rapporto sulla fede [Relatório sobre a fé], o livro-entrevista de Ratzinger. Publicado às vésperas do Sínodo com o objetivo de exercer pressão sobre os bispos e sobre a opinião pública, ele punha novamente em discussão a abordagem ao Vaticano II, imputando-lhe a responsabilidade pela crise do catolicismo no pós-Concílio.

Ao mesmo tempo, a política doutrinal da Santa Sé sobre alguns temas centrais do Vaticano II, como a eclesiologia, começou a se desenrolar a partir de meados dos anos 1980 através da Congregação para a Doutrina da Fé e daComissão Teológica Internacional. A Congregação promulgou em março de 1989 uma nova Profissão de Fé que deveria ser abaixo-assinada por aqueles que fossem chamados a ocupar cargos em nome da Igreja (EV 11/1191-1195).

A carta aos bispos sobre a "eclesiologia de comunhão" (Communionis notio, 28-5-1992, EV 13/1774-1807) e a "declaração da unicidade salvífica universal de Jesus Cristo e da Igreja" sobre a relação entre Cristo, Igreja e as religiões não cristão (Dominus Iesus, 06-08-2000, EV 19/1142-1200) marcaram dois outros passos importantes na recepção romana do Vaticano II.

No que se refere ao governo da Igreja, a Constituição Apostólica de João Paulo II Apostolos suos (21-05-1998, EV 17/808-850), sobre o estatuto e a autoridade das conferências episcopais, ressolidificou uma das teses fundamentais da Comissão Teológica Internacional presidida pelo cardeal Ratzinger, isto é, a necessidade de redimensionar alguns aspectos da descentralização operada no pós-Concílio em favor das conferências episcopais. Parecia que Roma pedia a restituição de cotas de poder.

Mudou essa "política doutrinal" com a eleição de Bento XVI?

O ano de 2005 marcou o 40º aniversário do encerramento do Concílio, mas foi a eleição de Bento XVI que determinou dois fatores importantes.

1) Depois do discurso à Cúria Romana em dezembro de 2005 e do documento vaticano de junho de 2007 sobre eclesiologia e a interpretação autêntica do "subsistit in" da Lumen gentium 8 (EV 1/305), ele alimentou a percepção de uma nova temporada. O ensino de Bento XVI havia reacendido o debate sobre o papel, por um longo tempo indiscutível, do Concílio na Igreja Católica, legitimando a impressão de uma "atitude revisionista" (senão de uma "política revisionista") de Roma com relação ao Concílio.

2) O motu proprio sobre a liturgia Summorum Pontificum (07-072007, EV 24/1101-1126), com o qual permite o uso do Missal latino tridentino e a retirada da excomunhão dos quatro bispos ordenados por Lefebvre, atraiu uma nova atenção sobre o Concílio e lançou as premissas para uma compreensão nova do seu significado.

A direção do pontificado de Bento XVI e as tentativas de reabsorver o cisma lefebvriano indicam que o impulso propositivo e reformador do Vaticano II se esgotou?

O Concílio já está enxertado no DNA do catolicismo moderno. No entanto, uma das principais linhas de ruptura na interpretação do Vaticano II corre entre aqueles que, baseando-se na letra dos documentos, veem o Concílio como o "fim", o selo conclusivo de um processo de renovação, e aqueles que o veem, ao contrário, como o início de uma renovação, baseando-se na percepção de que o Concílio é bem mais do que a coleção dos seus documentos. Repropõe-se a dialética entre a hermenêutica da "letra" e do "espírito" do Concílio.

Os defensores do Concílio como "início" podem facilmente demonstrar que a sua visão do Concílio como algo que "faz crescer" o depósito doutrinal reflete o que sempre aconteceu nos períodos pós-conciliares e encontra fundamento em algumas das decisões mais relevantes de Paulo VI (por exemplo, a aprovação dos novos movimentos) e de João Paulo II (por exemplo, o "magistério dos gestos" como Assis em 1986 e Damasco em 2001).

A percepção do Vaticano II como "início" remonta a uma lição de Karl Rahner em 1965, intitulada O Concílio: Início de um Início, na qual ele se pergunta se o significado do Vaticano II irá durar no tempo, e ele afirma que a resposta poderia ser dada no indicativo, mas, em última análise, é um imperativo. Para Rahner, o Concílio tornou um novo começo possível e legítimo. Pensar no Vaticano II como um início implica considerá-lo como um evento do Espírito, cujo impulso, portanto, não abandonaria a Igreja ao término das sessões.

Por outro lado, considerar o Vaticano II como o fim da renovação significa adotar uma visão pneumatológica diferente do Concílio e uma abordagem evidentemente negativo, não só com relação ao que aconteceu depois do Vaticano II, mas também no Vaticano II. Nesse marco, o "choque das narrativas" não encontra solução apenas no estudo da história do Concílio e dos seus documentos, mas exige um genuíno discernimento dos elementos de uma "percepção guiada pelo Espírito": o sensus fidelium, o estudo de teólogos e a supervisão do magistério, nessa ordem, dizia Ormond Rush em um livro publicado há alguns anos.

Recusar-se a ver no Vaticano II o início de uma renovação é uma traição da intenção e da história do Concílio. Não só: isso também denuncia uma escassa confiança na capacidade da Igreja de guiar a mudança confiando na assistência do Espírito para interpretar os "sinais dos tempos". Bento XVI dizia em julho passado: "Os documentos do Concílio contêm uma riqueza enorme para a formação das novas gerações cristãs, para a formação da nossa consciência".

Quais são as dialéticas mais relevantes em ação no "choque das narrativas"?

A maior parte dos historiadores e dos teólogos do Concílio concordam que o Vaticano II é ao mesmo tempo um "corpo de documentos" e um "evento", a ser acolhido na "letra" e a ser interpretado no "espírito". Isso significa ampliar o olhar para o pós-Concílio e para a sua recepção. Os detalhes já disponíveis sobre a história dos documentos conciliares confirmam a necessidade de manter unidas uma leitura "intratextual" e uma leitura "intertextual", e não contrapor "letra" e "espírito".

Outra dialética emerge na abordagem do corpo dos documentos. Na interpretação de Christoph Theobald, a arquitetura eclesiológica do Vaticano II está estruturada em torno a duas dimensões, horizontal e vertical. A dimensão horizontal da Igreja (ad intra ad extra) deve ser equilibrada com a dimensão vertical, atribuindo prioridade à ideia de revelação expressa na Constituição Dei Verbum (e na Declaração sobre a Liberdade Religiosa Dignitatis humanae). Segundo Theobald, a Igreja é o ponto de encontro das dimensões horizontal e vertical dos textos conciliares, e a unidade do corpo doutrinal do Vaticano II não é dada pelo gênero literário, mas sim pela coerência sistemática da sua teologia ao longo das coordenadas horizontal-vertical.

Uma segunda abordagem aos documentos como material teológico se concentra mais no estilo e na história da sua gestação. John O'Malley sugere uma hermenêutica mais atenta a novos elementos, como a linguagem. Constatar que uma das características específicas dos textos conciliares reside no seu estilo "exortativo" tem repercussões notáveis sobre os modos de fazer teologia e leva a avaliar o Vaticano II como um "evento semântico".

A crise da autoridade papal aberta pela Humanae vitae, além das implicações de caráter doutrinal, coloca também a questão da "mudança" e da "continuidade". O magistério papal de 1968 inaugurou a temporada da desilusão pós-conciliar e marcou o início de uma fratura entre o magistério e uma teologia que havia abandonado a metafísica como seu pivô e havia se tornado cada vez mais teologia da "história salvífica", na qual a história é conteúdo substancial. A relevância atribuída à história, e, portanto, à evolução em teologia, é, de longe, o fator mais importante para classificar a teologia católica depois do Vaticano II e sobre o Vaticano II.

Por um lado, há aqueles que veem a hermenêutica da "continuidade" como a única possível. Por outro lado, aqueles que privilegiam a chave interpretativa da "descontinuidade" entre o "antes" e o "depois" do Concílio, em sentido melhorativo.

Esse modo de considerar a relação entre historicidade e teologia na Igreja, por um lado, e a questão da continuidade/reforma/descontinuidade, por outro, muitas vezes se esquece da imensa quantidade de "descontinuidade" na história dos Concílios.

É hora de reconhecer que o caráter de evento do Vaticano II é um aspecto fundamental da história desse concílio, assim como de todo concílio. Mas a estrutura hermenêutica, ou seja, o modo pelo qual o pensamento moderno se aproxima de um texto, mudou e, para o Vaticano II, o caráter de evento foi mais dramático e produziu mudanças mais visíveis, graças à sua dimensão global de primeiro Concílio do catolicismo pós-europeu.

Vaticano II faz parte da história dos concílios. Negar a amplitude da mudança no Vaticano II é negar o seu caráter de evento e dos concílios anteriores. Assumir uma perfeita continuidade entre o Vaticano II e a tradição anterior acaba configurando esse último concílio como uma exceção na história dos concílios.

Por trás da identidade da Igreja em relação ao mundo moderno, há, portanto, às vezes inconsciente ou indireta, uma interpretação do Vaticano II. Por isso, não se trata de uma questão puramente acadêmica. Como dizia um ditado que corria na Rússia soviética: "Sabemos exatamente como será o futuro. É com o passado que temos problemas: ele muda continuamente". Mas, ao contrário da ideologia soviética, a Igreja tem um forte senso do seu passado, que não é tão fácil de mudar com um golpe de caneta.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

1979 - Sancionada a lei da anistia

Jornal do Brasil: Quarta-feira, 29 de agosto de 1979
O Presidente João Figueiredo sancionou a Lei da Anistia, que perdoou os cidadãos que no período compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto d 1979 cometeram crimes políticos ou conexos com estes. A lei sancionada recebeu o número 6.683. Composta de 3 parágrafos, diz no seu segundo parágrafo: "Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal".

O texto aprovado foi resultado de intensa pressão popular e resultou de negociações entre os dois únicos partidos permitidos pelo regime militar, a Arena, governista, e o MDB, de oposição. O MDB tentou convencer a Arena a aprovar uma emenda que ampliava a anistia, de autoria do deputado arenista Djalma Marinho (RN). O então presidente da Arena, José Sarney (MA), negou-se a atender o pedido do presidente do MDB, Ulisses Guimarães (SP).

O parecer do relator foi aprovado pelos líderes dos dois partidos em votação simbólica. A emenda Marinho foi submetida à votação nominal e foi rejeitada por 206 votos, todos da Arena, contra 202. Além dos deputados do MDB, votaram a favor 15 arenistas.

A aprovação do projeto da anistia proposto pelo governo com a rejeição da emenda Djalma Marinho representou um avanço considerável, mas não atendeu os anseios da sociedade brasileira. A luta pela anistia no Brasil havia começado timidamente desde 1968 por meio dos estudantes, jornalistas e políticos e, com o passar dos anos, foi somando adesões de populares. Em todo o País e no exterior foram formados comitês que reuniam filhos, mães, esposas e amigos de presos políticos.

A expectativa de voltar para casa

A expectativa de voltar para casa
Leonel Brizola soube que já estava anistiado e declarou: "Só mesmo quando chegar lá e ouvir português brasileiro à minha volta, ver aquelas caras familiares do nosso povo, é que perceberei que finalmente cheguei em casa. Por enquanto só consigo entender que uma coisa boa me espera". Ulysses Guimarães, indagado se iria à recepção dos anistiados, esclareceu: " Não vou a nenhuma chegada dos exilados. Mais importante que ir à chegada é ter lutado como o MDB lutou, para que eles chegassem". A anistia ampla, geral e irrestrita somente viria em 1985, já em pleno governo civil.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Igreja lembra os 13 anos de morte de dom Helder Câmara


Há 13 anos, a Igreja Católica perdia um de seus maiores líderes, o arcebispo emérito de Olinda e Recife, dom Helder Câmara. Mais que uma liderança religiosa, dom Helder era referência na luta pela paz e pela justiça social; seus exemplos e palavras foram perpetuados até hoje. Em homenagem à sua memória, hoje, 27 de agosto, dom Helderterá seus restos mortais trasladados para uma capela especialmente projetada para recebê-los na Igreja da Sé, em Olinda. Até então, os restos mortais de dom Helder estavam guardados em um túmulo provisório em frente ao altar da Igreja da Sé.

A informação é publicada pelo Boletim da CNBB, 27-08-2012.

Junto deles, serão colocados também os despojos do padre Antônio Henrique Pereira Neto e de dom José Lamartine, ambos amigos do arcebispo. Padre Antônio Henrique foi assessor da Pastoral da Juventude durante o pastoreio de dom Helder e dom José Lamartine, bispo auxiliar. A cerimônia será presidida às 9h pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido.

O site ‘Pernambuco’ informa que dom José Lamartine está enterrado em uma espécie de cemitério, localizado atrás da Igreja da Sé. Já o padre Antônio Henrique está sepultado no cemitério da Várzea, na Zona Oeste do Recife.

O trabalho de dom Hélder é conhecido em todo o mundo. Ele foi arcebispo de Olinda e Recife e também desempenhou funções em organizações não-governamentais, movimentos estudantis e operários, ligas comunitárias contra a fome e a miséria. Sofreu retaliações e perseguições por parte das autoridades do regime militar brasileiro.

A Igreja das Fronteiras, bairro da Boa Vista, ficou cheia de fiéis e emoção na manhã deste domingo, 26. Às 11h, o padre Sebastião Sá, celebrou missa em homenagem a dom Helder Câmara, dando prosseguimento à programação que decorre desde a última sexta-feira, para lembrar o aniversário da morte do arcebispo. O local foi escolhido porque lá dom Helder viveu os seus últimos dias, até falecer, em 27 de agosto de 1999.

Padre Antônio Henrique foi torturado e assassinado em 1969, durante o regime militar. O crime está impune até hoje, mas ganhou prioridade nas investigações da Comissão Estadual da Memória e Verdade. O sacerdote é tido como "Mártir da Juventude da Arquidiocese de Olinda e Recife".

terça-feira, 24 de julho de 2012

50 anos depois do Concílio. Artigo de Enzo Bianchi

Parece ser estéril e artificial uma polarização entre "ruptura" e "continuidade": a Igreja não é tanto uma instituição, mas sim o corpo de Cristo, um organismo vivo que conhece períodos e que exige a "reforma", que sempre deve reconduzir a hierarquia e o povo de Deus a uma renovada fidelidade ao Evangelho e ao seu Senhor.

A reflexão é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado no jornal L'Unità, 15-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Há 50 anos, João XXIII anunciava o Concílio Vaticano II. Cinquenta anos são um arco de tempo significativo para uma leitura daquele "novo pentecostes" que atravessou a Igreja Católica e a sua relação com as outras confissões cristãs, com as outras religiões e o mundo contemporâneo.

Os "padres conciliares" ainda vivos são pouquíssimos, e mais nenhum deles exerce ainda algum ministério pastoral (o teólogo Joseph Ratzinger participou dele como "perito"), já abundam estudos e reconstruções históricas baseadas em arquivos, diários e documentos de todos os tipos...

No entanto, a leitura não pode ser "separado", porque as energias espirituais e as mudanças desencadeadas pelo Concílio no tronco vivo da tradição bimilenar da Igreja são atualíssimas ainda hoje, apesar de que haja, também na Igreja, infelizmente, trabalha contra aquela que João Paulo II definiu de "a maior graça dada por Deus à Igreja do século XX (...) o evento eclesial mais significativo e determinante".

Verdadeiramente, o Concílio ainda resta a ser totalmente implementado: não nos esqueçamos de que, ainda no início do novo milênio, o papa pediu que todas as Igrejas locais se interrogassem sobre a recepção do Concílio e voltassem aos textos emitidos pelo Vaticano II, de modo a conhecê-los e assimilá-los. Além disso, a história nos ensina que eventos epocais como uma cúpula ecumênica precisam de diversas décadas para se tornarem patrimônio compartilhado por toda a Igreja, e essa progressiva assimilação não pode ser acelerada simplesmente por meios de comunicação mais rápidos.

No entanto, quem viveu com consciência a Igreja nos anos anteriores ao Concílio pode medir a mudança, lendo com relativa objetividade e sobretudo com um espírito de agradecimento o caminho já percorrido. A história cristã é um "recomeçar" sempre, tanto na vida do cristão individual quanto na vida da Igreja: mudança, portanto, não significa que o Evangelho muda, mas – como ousava dizer o Beato João XXIII – que somos nós, a Igreja, que o compreendemos cada vez melhor.

Nesse sentido, parece ser estéril e artificial uma polarização entre "ruptura" e "continuidade": a Igreja não é tanto uma instituição, mas sim o corpo de Cristo, um organismo vivo que conhece períodos e que exige a "reforma", que sempre deve reconduzir a hierarquia e o povo de Deus a uma renovada fidelidade ao Evangelho e ao seu Senhor.

Se ainda hoje há quem chora sobre a situação da Igreja e percebe sinais de decadência e de crise, na realidade, o fogo ardente do Evangelho ainda está bem presente debaixo das cinzas: basta um feixe de lenha seca, um pedaço de madeira para deslocar as cinzas, um sopro, e a chama volta a se reacender, a iluminar e a aquecer.

Bastaria pensar na qualidade da fé de muitos cristãos cotidianos, na consciência do chamado universal à santidade cristã, na presença da Palavra de Deus no coração das comunidades eclesiais, na capacidade de diálogo que a Igreja adquiriu com relação às outras confissões e às outras religiões... Não se trata de fazer uma leitura apologética dos anos pós-conciliares: inadimplências ao Evangelho e contradições em diversos âmbitos e em diversos temas ainda estão presentes, mas o caminho tomado com o Concílio, por enquanto, não foi desmentido nem esquecido.

Se quiséssemos destacar um aspecto que ainda espera pela plena realização é que a Igreja, que se descobriu noVaticano II como essencialmente "comunhão", se torne comunhão em profundidade, até ser "casa comum" para todos os cristãos e, consequentemente, escola de comunhão também para todos os seres humanos. A sinodalidade deve encontrar novas formas para se expressar; a unidade da Igreja deve inventar caminhos de maior comunhão e corresponsabilidade entre bispos, presbíteros e fiéis, mesmo na diferença dos dons e dos ministérios; a busca da verdade deve cada vez mais se manifestar na doçura da companhia dos seres humanos.

Talvez justo nesse campo, o Concílio pode ser uma clara bússola para orientar com renovado entusiasmo o contínuo caminho de retorno da Igreja ao seu Senhor.

terça-feira, 29 de maio de 2012

26 de maio de 1952 - A reintegração da Alemanha na Convenção de Bonn

"Este tratado garante a paz e a liberdade da Alemanha e conduzirá à unificação e à liberdade do país. Saudamos nossos irmãos do Leste e asseguramos que, com este tratado, demos um passo importante para a unidade dentro da liberdade. Começa uma nova era na história européia". Konrad Adenauer, Chanceler alemão

Após sete anos de ocupação, a República Federativa da Alemanha é integrada em base de igualdade com as demais nações européias num documento assinado com os Estados Unidos da América do Norte, o Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, e a República da França.

Com objetivo de fortalecer uma comunidade européia de nações, pacífica e próspera, unida às outras nações livres do mundo pelo cumprimento aos princípios da Carta das Nações Unidas, mediante o apoio e a defesa conjunta da liberdade e da herança comuns, a proposta do tratado era incorporar a República Federal de Alemanha sobre bases de igualdade à comunidade européia, incluida por sua vez na comunidade do Atlântico.

Para a Alemanha, devastada e derrotada ao fim da Segunda Guerra (1939-1945), era a oportunidade de reerguer-se economicamente, resgatar sua importância sócio-cultural perante ao mundo e retomar relações diplomáticas com as principais potências, através de um modelo inteiramente livre e pacífico.

Konrad Adenauer, político alemão cristão-democrata, foi um dos principais articuladores do processo. Interessado em estabelecer a Alemanha Ocidental como uma proteção para conter a expansão dos soviéticos na Europa, aproximou relações com os Estados Unidos e se reconciliou com a França.

A Era Adenauer
Era um homem calmo e meticuloso, de sorriso discreto no rosto vagamente parecido com o de um índio pele-vermelha, o velho de 73 anos que se apresentava ao novo parlamento germânico como candidato a Chanceler no 15 de setembro de 1949. Um voto apenas - o dele mesmo - garantiu-lhe a vitória, repetindo o episódio de 1929, quando o seu próprio voto o reelegeu Primeiro Burgomestre de Colônia. Em 1949 eram outros tempos: a Alemanha começava com ele um novo caminho, traçado segundo as suas normas, ou apesar delas, mas que hoje guarda, de qualquer forma, a marca dos seus passos.

O Chanceler tomava posse num país arbitrariamente dividido, onde a religião política à qual a maioria dos alemães aderiria por desvario ou oportunismo lhes fora arrebatada totalmente e revelada como impostura corrupta e desprezível. Assumia afinal, um posto que raros invejavam. E nele durou mais que qualquer outro Chanceler, desde Bismark, que resistiu até os 89 anos de idade. Tantas vezes na crista das ondas e na baixa-mar, a Alemanha haeria de chegar ao seu melhor nível apoiada num homem fundamentalmente civil, paradoxo de paciência e paixão.

23 de maio de 1932: MMDC - Mártires da Resistência


A sigla MMDC ficou marcada na história do país em homenagem aos quatro estudantes mortos durante confronto com a polícia getulista na noite de 23 de maio de 1932, quando um grupo de populares participava de uma manifestação em oposição ao governo, na Praça da República: Mário Martins de Almeida, 31 anos, solteiro, fazendeiro, nascido em São Manoel (SP); Euclydes Bueno Miragaia, 21 anos, solteiro, auxiliar de Cartório, nascido em S. José dos Campos(SP); Dráusio Marcondes de Souza, 14 anos, ajudante de farmácia, nascido em São Paulo; Antonio Américo de Camargo Andrade, 30 anos, casado, 3 filhos, comerciário, nascido em São Paulo.

Por trás da reivindicação de uma nova constituição, havia a questão da política do café-com-leite, com a qual São Paulo sentia-se desprestigiada desde a Revolução de 30, com o golpe que impediu a posse de Julio Prestes.

O incidente deu origem ao Movimento MMDC, organização civil clandestina que concentrou o alistamento voluntário para quem depois oferecia treinamento militar, e foi o estopim para a revolução constitucionalista. A força de resistência constituída posicionou-se em frentes de combate nas divisas de São Paulo com Minas Gerais, com o Paraná e no vale do Paraíba. E no dia 9 de julho de 1932 deu-se início o conflito armado contra a ditadura. Intelectuais, industriais e estudantes, políticos ligados à República Velha ou ao Partido Democrático, excluído do governo por Vargas, pegaram em armas para lutar por São Paulo. Aguardaram em vão o apoio de outros estados. No dia 3 de outubro, as tropas paulistas se renderam diante da superioridade das forças federais.

Os rapazes tornaram-se mártires da revolta e anos mais tarde, o 23 de maio passou a constar no calendário oficial do estado paulista como Dia da Juventude Constitucionalista, em alusão à participação dos jovens na revolução.

Em 1930, Getúlio Vargas deu um golpe de Estado e assumiu a Presidência, em caráter provisório, mas com amplos poderes. O Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e até as Câmaras Municipais foram fechadas. Os governadores dos Estados foram substituídos por interventores nomeados por Vargas. Nessa época São Paulo, que havia rompido com Minas a política do café-com-leite e que havia sido a principal base política do regime da Primeira República, era encarado como um foco oposicionista.

21 de maio de 1968: 10 milhões param a França


Trezentas fábricas ocupadas e centenas interditadas, inclusive as grandes indústrias siderúrgicas, metalúrgicas, químicas e as automobilísticas. Paralisação total do sistema de transportes, à exceção dos táxis. Nenhum trem, ônibus ou avião em circulação para a locomoção municipal, interprovincial ou para o exterior. No setor das comunicações, em funcionamento apenas o sistema telefônico direto e o serviço de telegramas. Fora do ar todo o sistema de rádio e televisão. Contingentes da Polícia no entorno dos prédios públicos. Esgotados os estoques de alimentos, falta de combustíveis e acúmulo de lixo nas ruas. Pichados os muros e monumentos de Paris, historicamente zelados pela importância cultural. Escolas fechadas. A França isola-se. Paris transforma-se na capital da crise do mundo moderno.


Continuando o efeito dominó, o movimento grevista, que já abalava a França desde o início do mês com os protestos dos estudantes e o apoio pleno da classe operária, alcançou seu ponto máximo estimando-se 10 milhões de integrantes, em virtude da adesão de novos setores em todo o país. Pararam os portos marítimos e fluviais, as instituições financeiras e os serviços públicos, que colocaram em xeque-mate o fornecimento de energia elétrica, gás e água.

Na maior greve de sua história, a França teve sua infra-estrutura largamente paralisada ou rendida ao controle operário.


O alvo das reivindicações era o Governo De Gaulle: reclamava-se a derrubada do governo, a tomada do poder e por mudanças políticas radicais. Acuado o presidente Charles de Gaulle anunciou que o governo levaria a cabo as reformas educacionais pedidas pelos estudantes e garantiria melhores condições à classe trabalhadora.

Os ecos do maio francês de 1968

Paradoxalmente, a greve geral que isolou a França atraiu para o país as atenções de todo o mundo. Após as tensas semanas da primavera, a paralisação chegou ao fim. Com os dias contados estava também o governo do General De Gaulle, que renunciaria ao mandato em abril de 1969, após uma derrota no referendo para transformar o Senado francês num corpo consultivo.

A dimensão daquele maio de 68 ficou evidente na repercussão dada à greve geral além das fronteiras da França. Propagando ideais de igualdade e liberdade, o movimento revolucionário inspirou levantes sociais no mundo inteiro.

16 de maio de 1943: O fim do Gueto de Varsóvia



O Gueto de Varsóvia não existe mais. Das construções da porção judaica da cidade polonesa, só restaram escombros. Dos judeus que lá estavam confinados, sem direito a trabalho, higiene ou alimentação, só restaram pilhas de cadáveres. Estima-se que foram 56 mil mortos. Assim terminou a revolta do Gueto de Varsóvia, na qual judeus mal-armados e famintos enfrentaram as forças alemãs durante quatro semanas. A opção pelo confronto, mesmo sabendo da desigualdade entre as forças, foi consciente. Era melhor morrer lutando com dignidade do que ser aprisionado em campos de concentração onde chegariam como animais em abatedouros. Já havia o conhecimento do destino traçado aos demais 300 mil habitantes que foram levados para Sobibor ou Treblinka. Portanto, era melhor enfrentar tanques com coquetéis molotov; era melhor morrer queimado vivo dentro da própria casa do que deixar-se arrastar pelos alemães, que entraram no gueto no dia 19 de abril com a missão de evacuar a área e embarcar toda a população para os campos de concentração.

As poucas fugas que se tem conhecimento foram através das saídas de esgoto.

O Gueto de Varsóvia foi a concentração forçada de um grupo judaico da cidade polonesa, isolado pelos nazistas a partir de 1939, quando da invasão alemã aquele país, durante a Segunda Guerra Mundial. Cercado por um muro, arames e cacos de vidros, tornou-se o destino obrigatório de todos os judeus de Varsóvia evidenciando ainda mais a segregação. Sua população chegou a atingir 380.000 pessoas, sob condições desumanas, expostas a doenças, ao frio e à fome. Em julho de 1942, como estratégia principalmente de minimizar o contágio de epidemias, iniciou-se a transferência forçada dos judeus mais fragilizados, os que não tinham disposição como força de trabalho, entre eles idosos, mulheres e crianças, para campo de extermínio. Restaram cerca de 60 mil habitantes no gueto, promovendo uma qualificação de espaço e alimentação. Os judeus que permaneceram trabalhavam como escravos para as fábricas alemãs. Esses remanescentes passaram a compor organizações pela Luta Judaica. Esses grupos de resistências muniram-se com armas e bombas, numa tentativa de enfraquecer a presença do exército alemão. Formaram também instituições culturais e de auxílio de alimentação e educação aos judeus.

9 de maio de 1968 — URSS invade Tcheco-Eslováquia

A União Soviética decidiu intervir militarmente na Tcheco-Eslováquia para barrar o processo de democratização conduzido pelo líder do Partido Comunista tchecoslovaco Alexandre Dubcek. Tropas soviéticas atravessaram a Polônia em direção àquele país.

As dificuldades entre a Tcheco-Eslováquia e a União Soviética começaram em janeiro de 1967, com a derrubada de Antonin Novotny – um dos homens da velha guarda do partido – e a sua substituição por Dudcek. O novo líder do PC tchecoslovaco procurou afastar as suspeitas soviéticas, declarando-se fiel à linha socialista e ao Pacto de Varsóvia, e argumentando que a abertura política fora motivada pela própria história e as tradições do seu país.

O objetivo da reforma proposta por intelectuais do Partido Comunista tchecoslovaco era o de transformar pacificamente um regime comunista ortodoxo em uma social democracia, nos moldes dos países ocidentais. As mudanças na estrutura política, econômica e social foram anunciadas em abril, um mês antes da movimentação das tropas soviéticas.

Dubcek prometeu uma revisão da Constituição, que garantiria os direitos civis. A abertura abrangeria também o pluripartidarismo, uma Assembleia Nacional, liberdade de imprensa, independência do Poder Judiciário e a tolerância religiosa.

As tensões entre a Tcheco-Eslováquia e a União Soviética aumentaram. Em junho, personalidades tchecoslovacas divulgaram um documento, que pedia a Dudcek para acelerar o processo de democratização.

Primavera de Praga
Diante dessa ameaça à hegemonia política da União Soviética, a Rússia enviou tropas de países do Pacto de Varsóvia à capital do país, no episódio que ficou conhecido como Primavera de Praga. Em 20 de agosto, sete mil tanques entraram na Tcheco-Eslováquia. No conflito morreram 72 tchecoslovacos. Dubcek foi preso e destituído do cargo.
As reformas foram canceladas e o regime de partido único continuou a vigorar na Tcheco-Eslováquia até o fim da União Soviética em 1989, quando o país retomou as reformas com a Revolução de Veludo. Em 1993, a República Tcheca e a Eslováquia, separaram-se na chamada Separação ou Divórcio de Veludo.