sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Oscar Romero, crônica de um martírio


Hoje sabemos que Oscar Romero não foi só um "mártir da justiça, da verdade e da caridade", segundo a definição do cardeal Martini, mas também uma vítima da Guerra Fria. Esse é um dos méritos da biografia escrita por Ettore Masina, um clássico que a editora Il Margine republica em uma edição revisada e atualizada (L’arcivescovo deve morire. Oscar Romero e il suo popolo, 376 páginas).

A reportagem é de Andrea Ambrogetti, publicada no jornal Europa, 21-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Os grandes atores desse conflito de muitas décadas, os poderosos do mundo – Masina o reconstrói em detalhes – poderiam ter economizado Romero. Mas que poderiam ter acabado com o genocídio, as injustiças, a fome, a miséria e também a perseguição anticatólica, isso é outro assunto.

Nos anos 1970, a obra do arcebispo de San Salvador já era conhecida em nível mundial (um título doutor honoris causa em Louvain, candidato ao Nobel da Paz por 118 membros britânicos) e o arquivo com o seu nome estavam sobre a mesa do papa a do presidente dos Estados Unidos.

O Papa Montini antes e o Papa Wojtyla depois estão a par dos riscos corridos pelo arcebispo. Romero os encontrou mais de uma vez e mais de uma vez lhes escreveu.

Ele, que jamais renunciar ao amor pela Igreja, à distinção entre busca da justiça e programas políticos individuais, até mesmo ao valor da unidade dos bispos, continuou tendo confiança e obedecendo.

Com a posse na Casa Branca de Jimmy Carter (ao qual Romero também escreveu pessoalmente), o embaixador dos EUA em San Salvador se encontrou com o arcebispo mais de uma vez para entender como encaminhar o país rumo à normalização. As ditaduras que subjugaram a América Latina chegaram ao fim, mas havia incerteza sobre os modos e os tempos. Carter queria impor uma maior atenção aos direitos humanos, mas a prioridade era impedir a difusão do comunismo.

Em El Salvador, a vida continuava entre tiros contra os campesinos e marchas fúnebres, mulheres violentadas, sacerdotes assassinados. Além disso, havia algo inconfessável: os esquadrões da morte e os milhares de desaparecidos. Mas como em todas as "crônicas de uma morte anunciada", os meses, as semanas e os dias se sucediam implacavelmente. Foram poucos os que se surpreenderam quando o tiro que partiu o coração do arcebispo chegou no dia 24 de março de 1980.

No dia 7 de maio de 2000, na sugestiva cerimônia jubilar realizada no Coliseu, João Paulo II inseriu Romero entre os novos mártires. Muitos hoje se perguntam se não chegou o momento de proclamá-lo santo.

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