terça-feira, 8 de junho de 2010

História de Nova Iguaçu















ANTECEDENTES GEO-HISTÓRICOS

1502 (1º de janeiro)
- uma expedição, fazendo o reconhecimento do litoral da Terra de Vera Cruz, e cruzando a barra da Baía Guanabara, julgou ser a foz de um caudaloso rio, que foi denominado de Rio de Janeiro.

Observação: Guanabara quer dizer - mar em forma de seio - na linguagem Tupi. Os índios que habitavam, à época eram os tupimambá, apelidados de tamoios.
Rio, em Latim, é flumem e, daí, a origem da palavra - fluminense.

1531 (30 de abril)
- uma expedição, comandada por Martim Afonso de Souza, faz o reconhecimento da Terra de Santa Cruz (litoral), permanecendo 3 meses no interior da Guanabara ou (Baía do) Rio de Janeiro.

1555 (10 de novembro)
- franceses protestantes, liderados por Nicolau Durand de Villegagnon, invade a Baía Guanabara (Rio de Janeiro), objetivando fundar a França Antártica.
"É minha intenção criar aqui um refúgio para os fiéis perseguidos em França, na Espanha ou em qualquer outro país de além-mar, a fim de que sem temer o rei nem o imperador nem quaisquer potentados, possam servir a Deus com pureza conforme a sua vontade". (palavras de Villegagnon, reproduzidas pelo escritor Jean de Léry).

Observação: Os franceses fizeram amizade com os tupinambás. Esta "união" passou à história com a denominação de Aliança Franco-Tamoia. Fato que fez com que os jesuítas fizessem intransigente oposição aos índios e reunissem reforços para a expulsão dos franceses.

1557 (7 de março)
- Desembarcam no Rio de Janeiro, além de 300 colonos os escritores Thevet e Jean de Léry e dois ministros calvinistas. Léry publicaria o livro Viagem à Terra do Brasil.
Nesta obra, Léry declara ter navegado pelos rios cujas águas desembocam na Baía Guanabara ou Rio de Janeiro:
"existem na terra firme, que rodeia este braço de mar, dois rios formosos de água doce, afluentes daquele e nos quais naveguei com outros franceses cerca de vinte léguas pelo interior das terras e estive em muitas aldeias dos selvagens que habitam em suas margens".

1560 ou 1561
O jesuíta José de Anchieta (Informação do Brasil/ Cartas jesuíticas, 1584) informa:
"7 ou 8 frades brancos franceses que mandados por Villegaignon, em 1560 ou 1561, fizeram entre os Tamoios o seu estabelecimento, e ensinaram alguns meninos do gentio, os quais traziam vestidos com o seu hábito".

Observação: Dom Clemente Maria da Silva Nigra, O.S.G., em seu trabalho publicado na Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 7, Rio de Janeiro, 1943, informa: "parece que a região do rio Iguaçu, no interior da Guanabara, constitui a primeira terra beneditina nas vastas plagas brasileiras do século XVI" e "Até hoje ninguém levantou dúvidas a respeito do lugar deste estabelecimento religioso".

A citada pesquisa feita por Dom Clemente tem o seguinte título: A Antiga Fazenda de São Bento em Iguaçu.

Nota do pesquisador: fazendo a vinculação das informações (de 1557/1560 ou 1561) afirmo que rio ingoagoasu /guaguasu / hyguasu / Iguaçu foi navegado por Jean de Léry "com outros franceses", entrando em contato com "muitas aldeias" do povo tupinambá, apelidado de tamoio.

1564
"Os monges franceses de Villegaignon foram obrigados a abandonar o Brasil em época anterior a 1564" (Dom Clemente, obra citada).

1565 (5 de setembro)
Cristóvão Monteiro, primeiro ouvidor do Rio de Janeiro, recebe "grande parte daquelas terras de Iguaçu". (Dom Clemente, obra citada ): "uma légua de comprido pelo rio acima, e meia légua de largo de cada parte".

1596 (7 de dezembro)
Marquesa Ferreira, viúva de Cristóvão Monteiro, "oferece meia légua de terreno ao mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro". (Dom Clemente, obra citada): "meia légua de terra, que começa onde quebra o salgado".
Observação: de 1591, possivelmente até 1669, o Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro possuiria, aos poucos, as terras que formariam a Fazenda de São Bento "em Iguaçu".

1611
Frei Ruperto de Jesus prepara uma área para instalar o engenho de açúcar da dita Fazenda (de S. Bento), obra iniciada por Frei Bernardino de Oliveira, com produção aumentada na administração do Frei Diogo da Silva. O primeiro engenho de Iguaçu funcionaria até 1646. Os canaviais não eram produtivos ("pouco rendimento que ele dava pela qualidade do terreno alagadiço"). Outro engenho foi levantado no lugar denominado Vargem Pequena.

1645
Frei Mauro das Chagas - abade que administrou a propriedade de 1645 a 1648 - teria iniciado a edificação da igreja da fazenda, inicialmente sob a devoção de Nossa Senhora de Iguaçu.
Informa Dom Clemente (obra citada):
- "As datas combinariam com o feitio da bela imagem de Nossa Senhora do Iguaçu cujo título (. . .) parece ter sido de Nossa Senhora da Purificação = da Candelaria = das Candeias, conforme um toquinho de vela que o menino Jesus segura na mão esquerda".
- Escultura em imbuia, tendo 1,45 centímetros de altura.
- A imagem foi levada para o Mosteiro de São Bento em 1920.
- Em 1943, informava Dom Clemente: "e desde o dia 8 de dezembro" (1941) "a venerável imagem de Nossa Senhora do Iguaçu ocupa um lugar de honra no primeiro andar do secular mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro".
- Foi padroeira da Fazenda de S. Bento do Iguaçu até 1695.

1698
Neste ano deveria ser iniciada a abertura de um caminho (do ouro) para substituir o que terminava em Parati (RJ). Os trabalhos foram empreendidos por Garcia Paes e por seu cunhado Domingos Fonseca Leme. Foi inicialmente, denominado de Caminho Novo das Minas (Caminho do Porto do Pilar, da Pedra ou Sítio do Couto, do Marabaí, do Pilar do Iguassú etc.).
Depois da abertura da Variante do Proença (Porto da Estrela), foi apelidado de "Caminho Velho".

Observação: Para se alcançar este "Caminho do ouro" os barcos saiam do Cáis dos Mineiros, ao pé do Morro de São Bento, Rio de Janeiro e, navegando até ao rio Iguaçu, chegavam ao rio Pilar (afluente do Iguaçu). E, vice-versa.

1699
Início da devoção a N. Senhora da Piedade do (rio) Iguassú, origem da futura Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Iguassú, cuja Matriz seria estabelecida à margem direita do rio Iguassú. Naquele ponto cresceria a Povoação de Iguassú.

Nota: A Capela dedicada a N. Senhora da Piedade do Iguaçu foi levantada na propriedade do alferes José Dias de Araújo e, até hoje, não foi identificado o sítio no qual a dita Capela - certamente de taipa-de-pilão - foi erguida.

1711 (12 de setembro)
O Francês Duguay-Trouin - para vingar a prisão e o assassinato de Duclerc, que havia investido contra o Rio de Janeiro no ano anterior - entra na Baía Guanabara. No dia seguinte desembarca na Praia do Valongo. A 19, bombardeia a cidade. O governador Francisco de Castro Morais foge, indo se refugiar na Fazenda de São Bento do Iguassú. No dia 11 ou 13 de outubro, com um reforço de 6 mil homens, desce, pelo Caminho do Pilar do Iguassú, o Governador de Minas, Antônio de Albuquerque, aquartelando sua tropa na Fazenda de São Bento do Iguassú. No dia 4 de novembro, tendo recebido a última parcela do resgate e depois de ter saqueado a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, deteve parte, levando 600 mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois, sendo o açúcar e o gado, a contribuição dos iguassuanos, além de quantia não citada de cruzados.

1742
O Padre Antônio da Mota Leite ergue, à margem esquerda do rio Iguassú, em local ainda não identificado, uma capela dedicada a Santo Antônio.

1763
A Capital do Brasil é transferida para o Rio de Janeiro e, em terrenos doados pelo Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, é fundado o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (ao tempo do Vice-rei Dom Alvarez da Cunha, o Conde da Cunha).

1767
Com madeira retirada das matas próximas ao rio Iguassú, situadas na Fazenda de S. Bento do Iguaçu, é entregue à navegação a Nau São Sebastião ("Nau Serpente", por causa de uma cabeça de dragão ornando a proa). Foi o primeiro navio de guerra construído no dito Arsenal (Artigo assinado por Marcelino Medeiros Julião, publicado no AMR Jornal, nº 51, 1986).

1833 (15 de janeiro)
A Povoação de Iguassú é elevada à categoria de Vila, para ser a "capital" (sede da Câmara de Vereadores, instalada a 29 de julho). O Município de Iguassú era integrado por seis Freguesias ("distritos"), desanexadas da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro): N. Senhora da Piedade do (rio) Inhomirim, São João Batista do (rio) Meriti, Santo Antônio da (aldeia de) Jacutinga, N. S. da Conceição de Marapicu, N.S. do (rio) Pilar (do Iguassú) e N. S. da Piedade do Iguassú (sede da Vila de Iguassú). Com a extinção da Vila e, depois, com sua restauração, a Freguesia de Inhomirim não voltaria a fazer parte do Município de Iguassú.

1837
O Coronel de Engenheiros Conrado Jacob de Niemeyer providencia uma planta topográfica da Vila de Iguassú.

1844 (10 de abril)
A Lei Provincial de nº 314 destina recursos para a abertura de um canal, ligando o rio Utum ao rio Iguassú, para aumentar o volume d'água e melhorar a navegação. As obras ficariam sob a responsabilidade do coronel de Engenheiros Conrado Jacob de Niemeyer. Esta ligação pode ser observada nos dois leitos originais (confluência, na extinta Vila de Iguassú). Quando das obras de "saneamento" (dessecamento dos brejais), repetiu-se a junção, que pode ser observada com a abertura dos canais, para as duas águas (Utum e Iguassú).

1844
O mesmo Coronel Conrado providencia o levantamento da Planta Hydro-Topographica da Estrada do Comércio (entre os rios Iguassú e Parahyba). Os trechos calçados na Vila de Iguassú - a Estrada do Comércio começava no Largo dos Ferreiros, no perímetro urbano da dita Vila - e na Serra do Tinguá (trechos "empedrados") ficaram sob a responsabilidade do dito Coronel Conrado Jacob de Niemeyer.
A Estrada Real do Comércio, idealizada a partir de 1811, pela Real Junta do Comércio, pode ser considerada, como afirmaria o pesquisador Brasil Gerson, em seu livro O Ouro, o café e o Rio, "a primeira estrada brasileira aberta para o café."
A produção cafeeira, do Maciço do Tinguá e vizinhanças, do Vale do rio Santana e vizinhanças e do Vale do rio Paraíba do Sul e vizinhanças, áreas de influência do Caminho do Comércio, descia pelo citado caminho, até ser embarcado nos vários portos do rio Iguassú e, destes, para o Porto do Rio de Janeiro. A decadência atingiu estes lugares após a abertura e inauguração da Estrada de Ferro de Dom Pedro Segundo, a 29 de março de 1858. A E.F. de D. Pedro II seria a "Central do Brasil" na República.

1846
O Coronel Conrado providencia uma planta topográfica do rio Iguassú, indicando os principais acidentes geográficos e portos.

1858 (29 de março)
É entregue ao tráfego o primeiro trecho da Estrada de Ferro de Dom Pedro Segundo (a Central do Brasil, na República), ligando o Rio de Janeiro a Queimados (Pouso dos Queimados) e, no mesmo ano alcançaria Belém (Nossa Senhora de Belém e Menino Deus), atual Japeri. O transporte do café, passando a ser providenciado pela dita ferrovia, levaria à decadência o movimento que era produzido na Estrada do Comércio-portos do rio Iguassú. Inicia-se, então, igualmente, a decadência (esvasiamento) da Vila de Iguassú, sede do Município de Iguassú.

1860 (27 de janeiro)
O Presidente da Província do Rio de janeiro, Ignacio Francisco Silveira da Motta, é informado das providências tomadas pela Secretaria da Polícia, para dar extinção ao quilombo, formado por, aproximadamente, 100 quilombolas, num "tremendal", "cercado de um valado guarnecido de estrepes venenosos", "todo pantanozo". Local: terras de São Bento.

1891 (junho)
A sede do Munícipio de Iguassú é transferida das margens do rio Iguassú, para as margens da Estrada de Ferro Central do Brasil (Estrada de Ferro de Dom Pedro Segundo, na Monarquia, segundo Reinado). Em 1862 a sede (Matriz) da Freguesia de Santo Antonio (da aldeia dos índios) de Jacutinga já havia sido transferida para perto da dita ferrovia, para o arraial denominado Maxambomba.
A primeira sede (Vila de Iguassú) ficava na Freguesia de Nossa senhora da Piedade do Iguassú.

1916
Por iniciativa do político Manoel Reis o nome da Segunda sede do Município de Iguassú, Maxambomba, é mudado para - Nova Iguassú. Segundo informações de Sebastião de Arruda Negreiros, que foi Interventor no Município, em 1930, a extinta Vila era, popularmente denominada de Iguassú Velho ou Velha. Predominou, ficando oficialmente, o Iguaçu Velho.

1921 - 1922
Dom Clemente Maria da Silva Nigra, O.S.G., informa (trabalho citado): "A grande fazenda de Iguaçu, a mais antiga da Ordem de São Bento do Brasil, foi desapropriada pelo Governo Federal em 1921 (Decreto nº 15036, de 4 de outubro). A escritura da transferência definitiva da propriedade, à Empresa Melhoramentos, tornando efetiva a desapropriação, é de 9 de novembro de 1922.

1934
O Ministério da Viação e Obras Públicas faz publicar o Relatório apresentado pelo Engenheiro Chefe da Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense, Hildebrando de Araújo Góes. As principais obras tiveram início em 1910. A Comissão, nomeada a 28 de dezembro de 1909 deveria terminar a empreitada a 1º de julho de 1916. (Comissão Federal de Saneamento e Desobstrução dos Rios que desaguam na Baía de Guanabara).
Este Relatório registra as principais obras executadas deste o século XIX, cujas datas deixamos de anotar nesta síntese, em face da quatidade delas.

NEY ALBERTO DE BARROS
Professor, historiador e pesquisador. Membro do IPAHB.

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