domingo, 11 de dezembro de 2011

“A Igreja deve garantir a pluralidade da comunidade cristã”, afirma jesuíta espanhol

Jesuítas do País Basco e Navarra estão reunidos desde segunda-feira no santuário de Loyola. São 54 representantes do total de 250 que existem na Província de Loyola. Eles irão escolher o seu representante para a 70ª Congregação de Procuradores, que começará no dia 09 de julho de 2012 no Quênia e refletirão sobre os desafios e as necessidades do mundo e da Igreja hoje. “A crise não é econômica nem financeira, mas de valores”, disse Juan José Etxeberria, provincial dos jesuítas de Loyola e que coordena a reunião.

A entrevista é de Cristina Turrau e está publicada no jornal espanhol Diario Vasco, 07-12-2011. A tradução é doCepat.

Eis a entrevista.

Qual é a decisão mais importante que deverá ser tomada na reunião?

Fazemos um balanço da forma como se está realizando a missão na Província de Loyola. Devemos escolher um procurador que nos representará em julho no Quênia, onde o Padre Geral toma conhecimento da situação da Companhia universal. Nestes dias analisaremos postulados para apresentar ao Padre Geral.

Em 2016, as cinco Províncias dos jesuítas na Espanha se unificarão. Haverá perda de independência?

Eu creio que não. O itinerário da integração de províncias está estabelecido. Levou-se em conta os elementos territoriais, linguísticos, culturais e sociais. Haverá plataformas apostólicas que levarão em conta o local. Não se fará a mesma coisa em Sevilha, Barcelona, Madri ou Bilbao. O trabalho dos jesuítas nos diferentes lugares tem suas particularidades. E é preciso levá-las em conta.

No Quênia poderão ver campos de refugiados, guerras e fome. Avançamos?

Eu creio que avançamos graças às pessoas de todo o mundo que abrem seus corações ao sofrimento dos outros. Os desafios de hoje são os de todos os tempos. Há diferentes matizes, mas a pergunta é a mesma: “O que o ser humano pode fazer para diminuir o sofrimento?” Diante da violência, da guerra, da pobreza ou da fome, trata-se de dar esperança, alegria e sentido à vida. A pergunta nos interpela como indivíduos e não apenas as sociedades. Mas assim como individualmente se faz ouvidos surdos à pergunta, também o fazem as instituições.

Nota-se ‘in situ’ o avanço quando se viaja ao Quênia?

Há muitas pessoas comprometidas. Há dois anos visitei a Ruanda, Burundi e o Congo e me deparei com progressos, apesar da existência de campos de refugiados onde existe uma grande desumanidade e muita pobreza. Há algumas instituições públicas e privadas que tratam de dar educação, saúde e alimentação nessa situação muito difícil. Os campos se devem ao deslocamento de pessoas em decorrência da guerra e da violência.

O País Basco vive um tempo de esperança? A família de Inaxio Uria pedia por estes dias uma condenação do ETA por parte da esquerda nacionalista.

O anúncio do ETA de cessar a atividade terrorista era uma notícia desejada. Mas ainda resta um longo caminho pela frente. E a família Uria é um bom exemplo dos desmandos e feridas que a violência deixou. Todos, e particularmente a Igreja, devemos acompanhar os sofredores e buscar uma reconciliação baseada no reconhecimento da dor que tantas pessoas sofreram e a vontade de que algo assim não se repita mais.

As sociedades ocidentais estão em crise. O que dirão na África?

Não deveríamos pensar que enfrentamos uma crise pontual nem estar à espera de que as leis da economia deixem este ciclo para trás. Esperar superar “o buraco” é uma atitude tecnicamente duvidosa e humanamente pobre. Devemos fazer ouvir a voz de todos aqueles que o sistema deixou de lado. E eles nos pedem uma mudança profunda. A crise não é econômica nem financeira, mas de valores. Não falamos tanto de caridade, mas de justiça.

Desafios da Companhia de Jesus...

Tratar de responder à questão da evangelização ou da fé em uma sociedade cada vez mais secularizada. Queremos abordar o tema das vocações e ampliar o nosso serviço de qualidade aos últimos da sociedade.

Os últimos...

Quando as forças do individualismo social aumentam, necessitamos acompanhar, servir e defender os pobres e excluídos. Outro desafio é realizar a nossa missão com os leigos em colaboração mútua. Sozinho é muito difícil. No País Basco e Navarra temos uma universidade, seis colégios, muitos centros sociais e santuários. Fazemos o trabalho com outros. É um desafio fazê-lo juntos. Estamos há anos fazendo o trabalho juntos, mas é preciso intensificar a colaboração.

Fale da missão da Companhia...

Tem a ver com a fé, a justiça e o diálogo.

Fale também da sociedade secularizada e descrente.

Há pessoas jovens ou de idade mediana com inquietudes religiosas ou relacionadas com a transcendência. Mas o religioso, os valores humanistas e cristãos se diluíram na sociedade.

A hierarquia católica se fecha à dissidência. Há os casos da censura aos livros de Pagola, o abandono de Joxe Arregi e a rebeldia do teólogo Juan José Tamayo.

Cada caso é diferente. Acompanhei mais de perto o caso de Arregi. Me parece que na Igreja é importante que haja uma pluralidade. O serviço à comunhão é importante e a Igreja deve garantir que a sã pluralidade da comunidade cristã encontre espaço em seu interior. E há espaço para carismas e vozes diferentes, sempre dentro de uma comunhão fundamental. Existem diversas sensibilidades e às vezes há situações difíceis e conflitivas, mas como em qualquer outra organização.

Seus desafios.

A Companhia de Jesus está imersa em um processo de atualização de sua missão para ganhar em eficácia. Um setor social agrupa as instituições que trabalham com a imigração, com presos ou pessoas necessitadas. Trabalha-se com criatividade na espiritualidade inaciana, através dos Exercícios Espirituais. O processo de integração das cinco Províncias na Espanha se realiza com grande sensibilidade à diversidade. E queremos propiciar a corresponsabilidade dos leigos na Companhia

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