quinta-feira, 17 de maio de 2012

Em 1907, Vargas relativiza escravidão e ataca cristianismo


Em 25 de dezembro de 1907, aos 25 anos, Getúlio Vargas foi o orador da sua turma na formatura na Faculdade de Direito de Porto Alegre.

No discurso, de 41 páginas, exalta as virtudes da civilização grega, e, num tom cientificista e rebuscado, passeia por biologia, psicologia, filosofia, arte e direito. Defende que a escravidão foi importante ao progresso do homem e ataca o cristianismo, em trecho citado por Lira Neto.

A reportagem é de Fábio Victor e Marco Rodrigo Almeida e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 17-05-2012.

Preocupada que a peça fosse usada por detratores do pai, a filha Alzira doou o discurso à Fundação Getúlio Vargas com recomendação de que não fosse divulgado, o que não impediu o biógrafo de consultá-lo.

Leia a seguir trechos do discurso, com ortografia original de 1907.

"E foi mais tarde sobre a soberba ruinaria da civilização greco-romana que desabrochou a flor mórbida do pessimismo christão. [...]

O amar aos outros surgiu como uma formula egoista, "interessada no desinteresse alheio", e a esmola é uma esperança de salvação creditada no activo da bemaventurança. A concepção monistica da philosophia grega foi substituida por esse dualismo absurdo, sobre-carga da maioria dos erros e prejuizos da intelligencia humana. [...]

Christo, preocupado com a salvação celestial menosprezou a familia, como a todos os bens da vida. [...]

Esta religião desnaturou a grandeza da sexualidade, a força propagadora da especie a união dos seres numa transfusão de magnetismo amoroso, considerado como um commercio impuro. A mulher amesquinhada, ser inferior, serpente tentadora do mal. [...]

A lucta não é a desordem, é a obediência dos inferiores aos superiores, é a subordinação aos mais capazes. [...]

Quando o homem não mais eliminou os vencidos, mas escravisou-os, deu um grande passo. [...] Não eliminaram o prisioneiro de guerra - absorveram-no, isto é, filtraram-no atravez o agrupamento social. Reduzido ao captiveiro foi um animal de carga mais intelligente, encarregou-se dos misteres inferiores da vida, arou a terra que proliferou em larga messe de beneficios. O captiveiro hoje prejudicial a economia dos povos e incompativel com a civilisação foi n'aquelle tempo um progresso.

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