quarta-feira, 9 de maio de 2012

Esquerda grega cresce e seu líder apoia moratória


A incapacidade da Grécia de formar um governo de coalizão na esteira de eleições inconclusivas produziu um claro vencedor: Alexis Tsipras, 37 anos, o carismático líder da esquerda radical no país e a nova voz de peso na política grega.

A reportagem é de Costas Paris e Matina Stevis e publicada pelo The Wall Street Journal e reproduzida pelo jornalValor, 08-05-2012.

Tsipras levou seu partido, o Syriza, ao segundo lugar no domingo, com 16,8% dos votos, só dois pontos percentuais atrás da Nova Democracia, o partido de centro-direita que recebeu a maior votação. O socialista Pasok, que já foi forte, ficou em terceiro.

O Syriza - que fez campanha contra a política de austeridade defendida por parceiros da União Europeia - teve mais do que o triplo dos votos obtidos nas últimas eleições, em 2009. Com isso, Tsipras, admirador do presidente venezuelano Hugo Chávez, ganhou voz na formação de um novo governo grego - algo que parecia improvável poucos dias antes.

Hoje, ele vai tentar formar um governo de coalizão. Ontem, a tentativa do líder da Nova Democracia, Antonis Samaras, foi infrutífera. Não houve apoio suficiente.

"Nunca esperamos uma votação dessas", disse um membro do Syriza. "Mas o recado das urnas é claro. O eleitorado quer uma mudança radical no modo como o país é governado, quer o fim da austeridade brutal e estamos prontos para encarar o desafio".

Tsipras, que usa uma motocicleta BMW para ir ao Parlamento, defende a anulação do acordo de resgate da Grécia com credores estrangeiros. É um crítico feroz das medidas de austeridade e das reformas estruturais exigidas do país em troca do socorro financeiro.

Na campanha, ele defendeu o perdão da dívida ou uma moratória sobre o serviço da dívida pelos próximos três anos.Tsipras diz que só assim a Grécia conseguirá ter um superávit primário e garantir uma rede de proteção para o crescente número de cidadãos atingidos pela recessão, em seu quinto ano. Menos clara é a posição do parlamentar sobre a permanência ou não da Grécia na zona do euro.

"Os partidos que assinaram o acordo [de resgate] agora são uma minoria. Sua assinatura foi deslegitimada pelo povo", disse Tsipras.

Sem uma combinação óbvia de partidos capazes de se aglutinar numa maioria estável que possa governar, a Grécia parece fadada a ir às urnas de novo em breve.

Caso Tsipras vença a próxima eleição (e seu partido conquiste apoio, como muitos analistas esperam), será difícil para outros partidos de esquerda não se juntar a ele numa coalizão - incluindo o Pasok, hoje no governo. No domingo, boa parte do eleitorado do socialista Pasok votou no Syriza.

Tsipras entrou para a juventude do Partido Comunista ainda no ensino médio. O núcleo de seu partido surgiu de uma facção da ala dura do PC. Evoluiu e virou uma aliança que abriga vários grupos da fragmentada esquerda do país.

O partido é especialmente popular entre os jovens, mais atingidos pelo desemprego. É uma das poucas vozes na política grega com uma agenda que inclui direitos individuais, de homossexuais e questões ambientais. É, ainda, um dos poucos partidos pró-imigrantes na Grécia. Seu discurso contra a brutalidade da polícia e a favor do direito de protesto atraiu críticas de conservadores e de socialistas. Tsipras foi acusado de flertar com anarquistas e grupos por trás de violentos protestos no país.

Spiros Rizopoulos, especialista em estratégia de comunicação política e presidente da Spin Communications, diz que novas eleições são inevitáveis e provavelmente dariam vitória ao Syriza. "O Tsipras vai conseguir um resultado melhor numa nova eleição. Ganhou força num momento em que as pessoas estão prontas para ouvir qualquer coisa", disseRizopoulos.

Dois anos de duras medidas de austeridade acertadas com a UE e o FMI ajudaram a manter a economia da Grécia em recessão. O desemprego, em quase 22%, nunca foi tão alto. A quebradeira de empresas cresce - e o consumidor deixou de gastar. O Syriza e um punhado de partidos também contrários à austeridade ganharam força rejeitando os dois principais partidos por trás dessas políticas.

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